O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem em evento com empresários que o governo persegue uma “estratégia 1, 2, 3” de política econômica para o Brasil sair da crise atual. Os três passos desse plano são a resolução do problema fiscal, a volta do crédito, que viria após a queda dos juros e, por fim, a realização de reformas estruturais. Na visão do ministro, as duas últimas etapas dependem da primeira e, por isso, é preciso convencer trabalhadores, empresariado e Congresso da importância do ajuste fiscal. “O fiscal é a maior fonte de incerteza para todo mundo”, disse o ministro, porque, sem saber quais impostos terão de pagar em um, dois ou dez anos, as empresas têm dificuldade em investir.
Para “acertar o fiscal” no curto prazo, o governo tem de cortar gastos com realismo, afirmou Levy. Do contrário, as reduções de despesas serão apenas “espuma”.
Sem reequilibrar as contas públicas, é muito difícil que os juros caiam, disse Levy. O relaxamento monetário é condição necessária para o início do segundo passo da estratégia do governo, que consiste na volta do crédito.
Como a economia brasileira é bastante flexível, o ministro avaliou que, após a redução das taxas de juros e a diminuição das incertezas, a demanda se recuperaria rapidamente. “E aí temos que nos antecipar para o atacar o terceiro problema, que são as reformas estruturais, para não ter mais um voo de galinha.”
Para Levy, se as empresas não tiverem capacidade de responder ao aumento de demanda, a procura maior resultará em elevação de preços. Por isso, é preciso atacar as restrições de oferta – terceiro e último passo do plano apresentado pelo ministro – por meio da simplificação de impostos, da facilitação dos investimentos e da flexibilização do mercado de trabalho.
Citando a coluna, publicada ontem no Valor, do ex-ministro Antonio Delfim Netto – a quem Levy chamou, sem citar seu nome, de “um extraordinário economista” – o ministro afirmou que as cinco propostas feitas por Delfim para que a presidente Dilma Rousseff envie ao Congresso um programa sério e focados já foram, de alguma forma, iniciadas pelo Executivo. “Não há muito o que inventar.”
As sugestões feitas pelo ex-ministro da Fazenda e do Planejamento são a criação da idade mínima para aposentadoria; a eliminação das vinculações orçamentárias; o fim de todas as formas de indexação; o envio ao da proposta da CUT que defende a livre negociação de salários sob controle dos sindicatos; e a reforma do ICMS.
O ajuste não existe pelo ajuste, disse Levy ao fim de sua palestra, e não adianta “tentar criar cizânia em volta dele”. Na noite de segunda-feira, a Fundação Perseu Abramo, mantida pelo PT, divulgou um documento em que critica duramente o ajuste conduzido pelo governo atual e o diagnóstico da crise por “economistas liberais”.
Questionado sobre o manifesto, o ministro afirmou que, na noite anterior, repetiu que “uma casa dividida não subsiste”. “Mas uma casa com pluralidade pode ser forte. Vamos trabalhar juntos em prol do ‘1,2,3’”, concluiu.
Valor Econômico – SP