02/09/2015
Adriana Lampert
Tomar decisões rápidas que mudem o contexto de crise é o principal desafio das empresas em um cenário econômico desfavorável e exige análise clara de qual a missão e a visão a que cada companhia se propõe. Com esta teoria, especialistas nacionais e internacionais alertaram, durante o 24º Congresso de Marketing ADVB/RS – que ocorreu ontem no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre – que é preciso equilíbrio nas ações daqueles que agirem com posicionamento arrojado e estratégico em tempos difíceis. “É preciso ousar, mas ao mesmo tempo administrar a crise, com todas as variáveis, e ainda construir um novo paradigma para o consumidor”, resumiu o ex-presidente do Grupo Sonae no Brasil, Sérgio Maia, que atua como conselheiro de empresas como Vonpar e Grupo Vipal.
Na crise, é preciso focar no essencial do negócio: ter claro qual o papel da organização e onde ela está inserida, o que está tentando fazer e onde se vê daqui há 10 anos, ponderou o vice-presidente mundial da Coca-Cola, Javier Meza Robayo. “Isso sempre ajudará a tomar decisões, porque não dá para fazer tudo, mas não se pode cortar o que é essencial.”
O grupo de empresários dividiu experiências com mais de 1,2 mil pessoas que compareceram ao evento, que este ano teve como temática O Futuro será de quem estiver preparado. A primeira palestra foi ministrada pelo consultor de Negócios, Francisco Valim, que também foi presidente das empresas OI, NET, Serasa Experian e Via Varejo (Ponto Frio e Casas Bahia). O executivo falou sobre como transformar empresas em meio a cenários complexos: “No mundo todo só existe um diferencial competitivo a longo prazo, que é a qualidade da prestação do serviço alinhada com a proposta de valor do produto”, disse Valim. O consultor defende a necessidade de acelarar nas decições, criando um modelo de delegação de trabalho. “Se é preciso ser mais eficiente na questão do custo, há que se garantir que os profissionais envolvidos farão com que isso aconteça.”
De acordo com o palestrante, o pior cenário é aquele em que se decide cortar custos, “porque normalmente se penaliza os profissionais mais eficientes”. “A grande diferença é garantir que os colaboradores tenham capacidade e autonomia para tomar decisões mais rápidas”, reforçou. Neste sentido, avaliou o consultor, é fundamental que todos saibam o que fazer, e tenham em mente a cultura da alta performance, sem comprometer valores éticos, em qualquer nível da organização. “Aquela coisa de tirar umas gramas da embalagem de um quilo do sabão em pó passa uma mensagem de que ‘vale tudo’ para todos na companhia”, advertiu.
A questão do valor de marca se mantém fundamental em meio “à tormenta” econômica, avaliaram os empresários. “O efeito renda explica o efeito substituição, o consumidor passa a escolher não mais pela emoção (que vem do anúncio publicitário), mas pelo preço”, lembrou Sérgio Maia. Por isso é importante manter consolidado o valor de marca das empresas e produtos, completou Valim, ao lembrar que os consumidores brasileiros são “extremamente exigentes”.
Executivo destaca a importância de focar no valor da marca
Ao falar do branding como protagonista das organizações, o vice-presidente mundial da Coca-Cola revelou que a companhia tem como convicção de que é nos momentos de crise que se pode ganhar muito no futuro. “Tem que forcar no valor da marca, na posição no mercado, e quem estiver disposto a investir agora, terá menos concorrência nas mensagens ao consumidor, que valoriza as empresas e produtos que na crise se mantém perto, tanto no discurso como nas ações.” Para Robayo, os empresários não devem deixar que o contexto tome conta das decisões, mas sim tomar iniciativas que mudem o contexto. “Às vezes é difícil, porque não se tem tempo para respirar, mas é preciso pensar qual contexto não se controla, e qual controla, para gastar energia neste último.”
O diretor-geral do Spotify na América Latina, Gustavo Diament, destacou que existem dois tipos de inovações: a incremental e a disruptiva. “A primeira ocorre quando se faz melhoria em um mercado já existente. Na segunda, é inserido um novo mercado ou produto. Isto nem sempre é percebido como incrível nos primeiros anos de vida, o que faz com que grandes organizações abandonem a ideia”, considerou. Já o consultor do Google, Federico Pistono, defendeu que as empresas que quiserem sobreviver devem abraçar as novas tecnologias e inovações, avaliando permanentemente seus processos e apostando nos jovens, sem deixar de compartilhar informações. Ele deu o exemplo do Google, que cresceu 9.000% em 10 anos, a partir do momento em que outros aplicativos utilizassem sua plataforma. “Não foi a única razão, mas ajudou para que o Google, que valia menos de U$ 30 bilhões em 2005, hoje valha U$ 367 bilhões.
Jornal do Comércio on-line – RS