28/08/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos | De São Paulo
Quando a crise de 2008 arrastou os Estados Unidos para seu pior período desde a Grande Depressão de 1929, Larry Johnson era presidente há apenas um ano da Fogo de Chão, rede de churrascarias de origem brasileira com operação nos EUA. Meses antes da quebra do Lehman Brothers, a cadeia havia aberto quatro pontos nos EUA, ainda em fase de maturação. Nos anos seguintes, o cliente sumiu das lojas e dos restaurantes, gastos despencaram e o país entrou numa grave crise de confiança. “Métricas mostram que os Estados Unidos só retomaram níveis de confiança anteriores à crise seis anos depois da quebra do Lehman Brothers”, diz Johnson. Segundo ele, o que a empresa aprendeu por lá pode ser, em parte, replicado por aqui. Apesar de não serem situações diretamente comparáveis, há reações e comportamentos semelhantes. “O que vimos e também seguimos aqui é que não dá para ficar parado, só protegendo caixa, sem fazer nada”, diz, durante visita à operação, em São Paulo. Crises de consumo, diz ele, em geral jogam preços de ativos para baixo e abrem espaço para renegociação de contratos e revisão de gastos, com maior tolerância de fornecedores e parceiros. A piora do nível de desemprego também tende a facilitar processos de contratação. A empresa com 26 pontos nos EUA, 10 no mercado brasileiro e um no México , viu queda de até 40% no preço de imóveis no Brasil em um ano. “Os pontos voltaram para a mesa de negociação em níveis de preços completamente diferentes”, diz Jandir Dalberto, presidente da rede no país. Paralelamente, a cadeia verificou no Brasil, com a piora da crise e valorização do dólar, pressões maiores por aumento de preços da carne. Frigoríficos aumentaram exportações e subiram tabelas no país. É outro cenário comum às crises no Brasil e EUA aumento da volatilidade em preços de insumos. “Nessa hora, quem tem chancela de bom pagador tem alguma vantagem. Frigoríficos aumentaram preços da carne entre 10% a 12% neste ano, e conseguimos negociar a metade dessa taxa”, diz Dalberto. Efeitos da forte desaceleração no consumo no país levaram à queda no tráfego e no valor do tíquete médio nos pontos da rede em 2015. “O cliente que pagava R$ 250 numa garrafa de vinho, hoje escolhe uma de R$ 120”, diz Dalberto. Pelo balanço, as vendas no Brasil caíram de US$ 30,2 milhões para US$ 22,3 milhões entre primeiro semestre de 2014 e 2015, mas há o efeito da desvalorização do real e das vendas da Copa do Mundo, que em junho de 2014, geraram receita de US$ 5 milhões. Ao se retirar o efeito do câmbio, as vendas ficaram estáveis. A empresa é controlada pelo fundo americano Thomas H Lee Partners. Nos EUA, houve alta mais forte, de US$ 99,5 milhões para US$ 110,8 milhões, elevação de 11,3%. Na soma total, enquanto mercado brasileiro representava 23,2% das vendas em junho de 2014, neste ano caiu para 17% (em dólar). EUA responde pelo restante. De janeiro a junho, a rede no mundo teve aumento de 8,7% no lucro, para US$ 6,9 milhões. Vendas subiram 2,5%, para US$ 133 milhões até junho. Segundo o presidente mundial, a empresa estuda a hipótese de entrar em outros mercados nos próximos anos, inclusive Europa, mais especificamente Inglaterra e Alemanha. Mas o foco central da expansão será EUA, como já mencionou o grupo. Recursos para crescimento devem vir do caixa próprio, de US$ 25 milhões em junho, (versus U$ 19 milhões em dezembro). Segundo o executivo, o capital da oferta pública de ações na Nasdaq em junho, de US$ 88 milhões, reduziu endividamento. “Prevemos entrada em 25 mercados nos EUA nos próximos cinco anos, inclusive em cidades onde já estamos”, diz Johnson. No ano que vem, a rede deve abrir a primeira unidade em Dubai. “No Brasil, prevemos abertura de 3 a 5 pontos por ano nos próximos cinco anos”. Apesar da maior facilidade de encontrar áreas hoje, isso não deve acelerar a expansão orgânica no país. “Já ficamos dez anos negociando um ponto. Não é porque há mais imóveis no mercado que temos que negociar tudo”.
Valor Econômico – SP