13/08/2015 às 05h00
Por Tatiane Bortolozi | De São Paulo
Lojas abertas no exterior e exportações fortalecem os resultados de fabricantes de calçados e de produtos de beleza no segundo trimestre. A fragilidade do mercado interno e a queda do real ante outras moedas fazem das economias externas muitas delas mais aquecidas que o Brasil ganharem espaço nos planos das companhias dos dois setores neste ano. A Natura, maior fabricante de cosméticos do país, elevou a participação das receitas internacionais de 18% para 27% em um ano, até o segundo trimestre de 2015. A receita na América Latina subiu 29,4% em moeda local e 59,3% em reais de abril a junho, enquanto as vendas no Brasil caíram 4,6%, na comparação com um ano antes. Dona das marcas Ekos e Una, a Natura opera no Brasil prioritariamente com vendas diretas. No exterior, o foco são as lojas físicas da marca australiana Aesop, adquirida em 2012 a rede cresceu de 89 lojas em junho do ano passado, para 112, até junho deste ano. A atuação saltou de 11 para 16 países. Enquanto as coisas no exterior vão bem, a companhia afirma que o maior desafio é recuperar o crescimento das vendas no Brasil em um ambiente de forte concorrência e desafios internos. A Beraca, fornecedora de ingredientes naturais da biodiversidade brasileira, afirma que a alta de outras moedas ante o real contribui para o “markup” (percentual adicionado ao custo da mercadoria para se chegar ao preço de venda), mas não tem relação com a competitividade. “É uma questão de maturidade no exterior”, diz o diretorexecutivo Daniel Sabará sobre a expansão de vendas para outros países. As exportações representavam 26% das receitas em 2011, subiram para 38% em 2014 e devem atingir 50% ao fim de 2015. A Beraca iniciou as exportações em 2000, em 2010 criou uma subsidiária na França e em 2011 estabeleceu outra subsidiária nos Estados Unidos, ambas com modelo de escritório e estoque locais. Cerca de 40 países são atendidos pelas subsidiárias e por 22 distribuidores. A companhia avalia fortalecer a posição internacional com um centro de pesquisa e inovação na França. O faturamento anual do grupo é de cerca de R$ 200 milhões, sendo R$ 32 milhões da divisão de cuidados pessoais. A paulista Inoar, de produtos para cabelos, espera chegar a dezembro com as exportações respondendo por 20% da produção, ante 15% ao fim do primeiro semestre. A empresa vende para países como Estados Unidos, México, Rússia e África do Sul e credita o crescimento à ampliação de mercados no exterior. No Brasil, a companhia ampliou as receitas em 30% no primeiro semestre com melhora de distribuição em mercados que tinha pouca atuação, como Norte e Nordeste. No setor de calçados, as exportações da Grendene subiram 17,6% nos três meses até junho, para R$ 121 milhões, enquanto as vendas no mercado interno caíram 11,6%. “O câmbio continua favorável e, em nosso entendimento, com perspectivas de favorecer ainda mais as condições da exportação no segundo semestre”, diz a empresa em seu relatório de resultados. A participação das exportações na receita bruta subiu de 24,5% para 26,2% na comparação entre a primeira metade de 2014 e 2015. A operação na Argentina foi destaque no desempenho da Alpargatas no segundo trimestre. A receita líquida na Argentina cresceu 62%, para R$ 234,3 milhões. O aumento ocorreu por reajustes nos preços e a valorização de 24% do peso em relação ao real. As vendas para os demais países subiram 22%, para R$ 218,2 milhões. O resultado foi associado à valorização do dólar e do euro sobre a moda brasileira. “O que posso garantir é que as condições de exportação permanecem. No ano passado, a companhia cortou despesas na operação na Argentina e a expectativa é de resultados muito bons”, disse o presidente da Alpargatas, Marcio Utsch, em conversa com analistas no início de agosto. A receita bruta da Arezzo no exterior somou R$ 30,5 milhões no trimestre, alta de 83% na comparação anual. O crescimento veio principalmente da reativação de negócios com parceiros externos da marca Schutz, que aumentaram as compras após a queda do real ante o dólar, disse o presidente Alexandre Birman. A Arezzo mudou a estratégia nos Estados Unidos no início do ano. Enviou executivos para trabalhar em Nova York e alterou o mix de produtos, o preço de entrada, o plano de comunicação e marketing. Segundo Birman, os resultados têm sido bastante positivos. A companhia espera que as exportações tenham ritmo menor na segunda metade do ano, mas com crescimento sadio e boas margens brutas. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), as exportações de produtos de higiene e beleza somaram US$ 288 milhões no primeiro semestre. O setor registrou crescimento mensal forte de janeiro a março, perdeu ritmo em abril e maio, mas voltou a avançar em junho e julho. Em calçados, as exportações totalizam US$ 544 milhões de janeiro a julho. (Colaborou Cibelle Bouças)
Valor Econômico – SP