07/08/2015 às 05h00
Por Arash Massoudi e Lindsay Whipp | Financial Times, de Londres e Chicago
Três das maiores engarrafadoras dos produtos da CocaCola na Europa vão se combinar, num negócio de US$ 27 bilhões, para simplificar a produção da maior fabricante de bebidas do mundo, no momento em que esta tentar reduzir os custos, já que os consumidores estão bebendo menos seus famosos refrigerantes. A CocaCola Enterprises (CCE), a engarrafadora americana com licenças exclusivas da bebida CocaCola em vários países da Europa ocidental, vai se fundir com suas concorrentes ibérica e alemã na mais nova consolidação da cadeia de fornecimento da CocaCola Company. O acordo anunciado ontem é um dos maiores já firmado na Europa no setor de consumo e vai criar uma companhia com receitas de mais de US$ 12,5 bilhões, cuja sede será em Londres. O negócio foi estruturado como uma inversão fiscal, permitindo à CCE reduzir sua exposição aos impostos nos Estados Unidos e criando uma companhia domiciliada no Reino Unido, que se chamará CocaCola European Partners. Suas ações serão negociadas em Amsterdã, Nova York e Madri. A fusão ocorre no momento em que a CocaCola enfrenta uma queda das vendas dos refrigerantes gaseificados, especialmente nos mercados desenvolvidos, que respondem por quase 70% do faturamento total da companhia. Em resposta, o grupo está tentando reduzir seus custos para melhorar a lucratividade. As iniciativas incluem a redução do tamanho das garrafas de bebidas, o que gera um lucro maior por peso além disso, os consumidores não estão mais apreciando os excessos. Em um comunicado interno, James Quincey, o presidente da CocaCola na Europa, disse que o negócio vai reforçar a capacidade da companhia de responder mais rapidamente às mudanças nas tendências de consumo. Ele acrescentou que a fusão permitirá às engarrafadoras aumentar a eficiência da cadeia de fornecimento, vendas e distribuição. “Com o emprego de nossa experiência global e do nosso conhecimento local, a escala da CocaCola European Partners nos permitirá assumir maiores riscos e lançar inovações nos mercados com mais rapidez e eficiência”, disse ele. A CocaCola vem pressionando suas engarrafadoras a se consolidar, em meio à busca por maior eficiência, enquanto tenta se adaptar aos novos hábitos dos consumidores. Com o negócio, o novo grupo pretende reduzir custos em US$ 375 milhões em três anos. Embora a CocaCola seja dona de algumas de suas engarrafadoras, como a da Alemanha, uma parcela significativa de sua distribuição é feita por franquias, para as quais ela vende os concentrados das bebidas. Muhtar Kent, CEO e presidente do conselho da CocaCola, disse ontem: “Esta fusão alinha mais o sistema da CocaCola para que ela possa competir com mais eficiência e conduzir o crescimento nos mercados desenvolvidos da Europa”. A CCE vai controlar 48% da companhia recémformada e seu CEO, John Brock, vai assumir o mesmo cargo no novo grupo. A CocaCola Iberian Partners controlará 34% da empresa combinada. Sol Daurella, presidente do conselho de administração da CocaCola Iberian Partners, formada em 2013 após a fusão de oito engarrafadoras da Espanha e Portugal, presidirá o conselho do novo grupo. A CocaCola Company controlará os restantes 18%, por meio de sua participação na engarrafadora alemã que integra o negócio. Os investidores da CCE, listada nos Estados Unidos, receberão da empresa recémformada um pagamento em dinheiro extraordinário de US$ 14,50 por ação, ou cerca de US$ 3,5 bilhões. A CocaCola não forneceu uma avaliação da companhia resultante da fusão. Ian Shackleton, analista da Nomura, estima esse valor em US$ 27,5 bilhões, calculado com base num lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 11 vezes, incluindo as economias de custos, com alavancagem de 3,5 vezes o Ebitda. Isso implica um endividamento de US$ 7,5 bilhões, um capital de US$ 20 bilhões e o pagamento em dinheiro, disse ele. Kent e Brock observaram que o uso do acordo de inversão fiscal foi motivado por benefícios operacionais e estratégicos. Eles disseram que, como a CCE vendeu seus negócios nos EUA, ela é agora para todos os efeitos uma companhia europeia. “Essa transação não tem a menor motivação tributária”, disse Brock. A fusão segue o acordo do ano passado entre a cervejaria SABMiller e a CocaCola Company para combinar suas operações de envase em 12 países africanos. A CocaCola Company também está remodelando as operações de envase nos EUA, para que dois terços delas esteja nas mãos de franqueados até 2017, em comparação aos atuais 25%.
Valor Econômico – SP