03/08/2015 às 05h00
Por Daniela Fernandes | Para o Valor, de Paris
Nesta alta temporada de verão na Europa, Georges Plassat, CEO do Carrefour, diz ter “bons motivos para pensar que as férias serão tranqüilas”. É com essa frase que ele iniciou a apresentação do balanço semestral do grupo francês, na sextafeira. A receita global da segunda maior varejista mundial, de 37,7 bilhões, sem impostos, registrou no período uma das mais altas taxas de crescimento desde 2008, de 5,2% na comparação anual. Talvez por estar satisfeito com os números ou para demonstrar que se recuperou após ter ficado afastado por razões de saúde no início do ano, Plassat transformou a apresentação dos resultados em uma reunião em clima de férias, com ares de show de humor, arrancando várias vezes risos da plateia. Ele já é conhecido por seu estilo descontraído e brincalhão, mas desta vez, para muitos, ele se superou. Plassat disse a um analista que ele parecia mais jovem, parabenizou o presidente do Carrefour no Brasil, Charles Desmartis, “por sair do escritório para percorrer o país e acariciar tomates” e disse ainda que “os brasileiros têm mais o que fazer neste momento em vez de se lambuzar de creme”, em resposta a um comentário sobre a desaceleração das vendas da L’Oréal no Brasil. Para o Carrefour, parece não haver crise em lugar algum. A França registra seu quinto semestre consecutivo de crescimento, de 1,8%, com todos os modelos de lojas contribuindo para o aumento das vendas, apesar de uma desaceleração no segundo trimestre (alta de 3,3%) em relação ao primeiro (7,9%). No restante da Europa, o lucro operacional cresceu 244%, atingindo 122 milhões, graças principalmente à retomada das vendas na Espanha, terceiro mercado do grupo, após a França e o Brasil. “Essa zona registra seu primeiro crescimento da receita nos últimos dois anos e volta a ser uma fonte de lucros”, afirma o CEO. O lucro líquido do grupo, no entanto, recuou 40,2% no primeiro semestre, afetado pelo custo de integração das lojas Dia na França e ganhos excepcionais realizados, no ano passado, com sua filial imobiliária Carmila. Excluídos esses elementos, o lucro líquido aumentou 17,5% no período, totalizando 233 milhões. “O Carrefour reencontrou seus fundamentos e uma forma de crescimento sustentável que havíamos perdido durante alguns anos”, disse Plassat. Segundo ele, a diversificação geográfica do grupo e sua transformação em um modelo de lojas multiformato (de hipermercados a lojas de bairro) representam “uma força” para a expansão dos negócios. Os números do Brasil e da América Latina contribuíram fortemente para o bom desempenho da varejista. As vendas no Brasil cresceram 12,2% no primeiro semestre na comparação anual e, na Argentina, 27%. O lucro operacional na América Latina, de 296 milhões, subiu 20% no período. “O Brasil vai bem”, afirma Plassat, que diz o mesmo sobre a América do Sul. “Não vejo em que a crise atual no Brasil seria um indício muito mais desfavorável do que pudemos constatar na Europa”, diz ele. Para o CEO, “a crise no Brasil é mais de natureza política.” O ritmo de abertura de lojas Atacadão (segmento que mistura atacado e varejo, o “atacarejo”) vai continuar elevado, segundo o presidente. A rede de lojas de bairro também está sendo ampliada no país. “O varejo no Brasil está em fase de modernização. Não é porque estamos há muitos anos no país que a modernização dos modelos de lojas está concluída.” Ele diz ter certeza de que a América do Sul “continuará contribuindo para o crescimento do grupo nos próximos cinco anos.” Não há ainda, no entanto, definição sobre a eventual entrada em bolsa do Carrefour no Brasil. “Não há pressa para realizarmos uma oferta pública inicial de ações (IPO) no Brasil. Não temos obrigação de fazer isso e não é o momento”, disse Plassat ao Valor. O CEO se diz confiante mesmo em relação à Ásia, onde tanto o faturamento quanto o lucro operacional ficaram no vermelho no primeiro semestre, com queda, respectivamente, de 9,7% e de 49,5%. As atividades na China estão sendo reorganizadas e o grupo continua investindo em novas lojas no país. “A China continuará um polo de crescimento, é evidente”, afirma. “Quando comparamos o Carrefour aos seus concorrentes internacionais, vemos que não há motivos para ficarmos envergonhados”, disse o presidente.
Valor Econômico – SP