Construtora tenta mudar traçado da via para evitar que obra fique entre o rio e a pista expressa
Megaempreendimento, que tem avançado no rito de aprovação na prefeitura, terá ainda hotel e escritórios
EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
O projeto de um edifício de até 40 andares, com shopping de luxo, na marginal Pinheiros, às margens do rio, vai alterar o curso da via expressa e causar um impacto ainda desconhecido no trânsito.
Contestado pela Associação de Moradores de Cidade Jardim e pelo Ministério Público Estadual, o empreendimento da construtora JHSF terá um uso misto: comercial e residencial.
Sua localização chama a atenção. Ele deve ser feito ao lado da Usina de Traição, “na beira” do Pinheiros, à esquerda de quem trafega pela via no sentido Santo Amaro (zona sul de SP).
Como hoje a única entrada para a área é pelo lado esquerdo da marginal, no fim de uma curva acentuada que existe logo depois da usina, a aprovação do empreendimento pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) seria praticamente impossível.
Da forma como é atualmente o traçado da via, o acesso seria inseguro para os motoristas, que não teriam espaço suficiente para desacelerar antes da entrada.
Para resolver esse problema, o projeto apresentado pela construtora para a Prefeitura de São Pauloe que está em fase final de aprovação, segundo o que a Folha apurou propõe mudar o curso da marginal.
A via passaria a ser retilínea, cortando o terreno da futura obra, paralela ao rio, desde a ponte da avenida dos Bandeirantes. Dessa forma, o prédio ficaria à direita de quem trafega a Santo Amaro (veja quadro nesta pág.).
Caso a mudança do traçado não ocorra e, mesmo assim, a torre seja liberada, ela será a única na margem do Pinheiros, ilhada entre a marginal e o rio. Atualmente, não existe nada similar.
Mas os possíveis impactos do projeto causam temor nos moradores da região, que preveem uma piora no trânsito. O Ministério Público abriu um inquérito para investigar possíveis irregularidades no empreendimento (leia texto na pág. B3).
PROJETO
O terreno de 15,3 mil metros quadrados onde a futura torre deve ser erguida foi vendido à construtora pela Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) em 2011 por R$ 16,1 milhões.
Na época, a licitação chegou a ser alvo de análise do TCE (Tribunal de Contas do Estado), que acabou decidindo pela legalidade da venda.
O projeto todo, de acordo com documentos oficiais da JHSF direcionados a investidores, engloba uma torre única de alto padrão.
Pela proposta apresentada à Prefeitura de São Paulo, a construtora será obrigada a fazer, no mínimo, um total de 1.872 vagas de garagem.
Além de espaço para um hotel e escritórios, na parte de baixo do edifício haverá um shopping center com uma área de 24 mil metros quadrados para as lojas.
Para efeito de comparação, o shopping Cidade Jardim, vizinho do projeto e da mesma construtora, tem 38 mil metros quadrados.
Existe até a possibilidade de os dois centros comerciais serem unidos por passarelas. O grande obstáculo para isso, entretanto, é a quantidade de torres de alta tensão espalhadas pelo local.
CONSTRUTORA
A construtora não dá detalhes do projeto e de seu andamento. Afirma apenas que ele está ainda na “fase de estudo” e que qualquer comentário, neste momento, seria prematuro.
Apesar disso, o rito de aprovação na prefeitura está em estado adiantado.
Se a obra demorar para começar ou se o projeto mudar muito, novas avaliações podem ser necessárias.
Folha de S. Paulo – SP