13/07/2015 às 05h00
Por Ana Paula Ragazzi | Do Rio
Três anos depois de a butique de investimentos Vinci Partners ter comprado seu o controle, a fabricante de revestimentos cerâmicos Cecrisa equacionou seu endividamento e mudou o perfil de seu negócio. Conforme seu presidente, José Luis Pano, sócio da Vinci, num horizonte de dois anos a Cecrisa deverá dar novo passo societário. O mais provável é uma união com a concorrente Eliane, que acabou de vender participação minoritária para o fundo de private equity Kinea, sócio da Vinci na Unidas. “Somos muito próximos da Eliane e a ideia existe, pois os negócios são complementares. A Cecrisa, com a marca Portinari, é focada na alta renda e a Eliane está na média renda. Juntar os negócios e fazer uma oferta de ações faz sentido”, diz. Pano conta que a operação já poderia ter acontecido, se o mercado estivesse aberto para as ofertas. Enquanto esse negócio não se concretiza Pano também mantém conversas com empresas estrangeiras, interessadas em fechar negócios por aqui e foca a melhoria da operação. A Cecrisa obteve financiamento de R$ 100 milhões da Finep, que investe em inovação. O plano é investir em máquinas e equipamentos que reduzirão o consumo de gás, o maior fator a impactar os custos da companhia, com 25%. Também a energia tem um impacto relevante, de 15%. É a alta desses custos hoje no Brasil que tem afetado mais o negócio, já que uma mudança no perfil deixou a Cecrisa menos afetada pela crise. Antes, suas vendas eram distribuídas entre construtoras (59%) e varejo (40%), sendo que a exportação (1%), praticamente não existia. Agora, o mix mudou: 50% para o varejo& 894; 40% para a construção e 10% para a exportação, em 2014. No primeiro semestre, a exportação já dobrou. Esse crescimento não é momentâneo por conta do câmbio favorável: está nos planos atingir 30% desde a entrada da Vinci no controle. As vendas são principalmente para África Do Sul e países do norte da Europa e da América do Sul. No caso do varejo, Pano diz que seu consumidor, de mais alta renda, se mostra mais “resiliente”. “Essas pessoas podem deixar de trocar de casa, mas reformam as atuais”, resume. As vendas são espalhadas por todo o Brasil e a região CentroOeste tem se mostrado um grande centro consumidor. A Cecrisa não tem operação de varejo, mas nesses anos aproximouse dos lojistas para trabalhar mais sua marca nos pontos de venda. Com relação ao segmento de construção, em grande desaceleração no país, Pano diz que a empresa ainda não foi afetada pela falta de lançamentos nos últimos 12 meses, pois havia entrega de imóveis. Daqui para a frente essa linha poderá se abater um pouco, apesar de ele avaliar que existe compra represada. “A preocupação é com o aumento do desemprego e a falta de crédito no curto prazo. Também o dólar impacta fornecedores”, diz. No primeiro semestre de 2015, a Cecrisa repetiu a receita do mesmo período do ano passado, com Ebitda 5% maior. Para o ano, a meta era crescer 10% e 12%, respectivamente. “Se conseguirmos repetir este ano a mesma receita e Ebitda já estaremos satisfeitos”, diz. Em 2014, a Cecrisa teve receita de R$ 675 milhões, com Ebitda de R$ 132 milhões. O lucro foi na casa dos R$ 60 milhões, mas influenciado por fatores extraordinários. Para este ano, é esperado R$ 40 milhões. Em 2012, a Vinci ficou com 70% da empresa. Injetou R$ 200 milhões na companhia e pagou R$ 45 milhões à antiga família controladora. A Cecrisa faturava ao redor de R$ 580 milhões e tinha um grave problema de endividamento, que beirava os R$ 600 milhões e que foi reduzido em 40%, refinanciado e alongado pela Vinci.
Valor Econômico – SP