12/07/2015
A plataforma de comércio eletrônico chinesa Alibaba bateu recorde de maior valor arrecadado em uma abertura de capital, em setembro de 2014, quando levantou US$ 25 bilhões na bolsa americana de tecnologia Nasdaq. O total foi US$ 3 bilhões maior do que o coletado pelo Banco Agrícola da China, em 2010, o até então recordista. Nos documentos que divulgou ao mercado, Jack Ma, fundador da companhia, afirmou que, após o IPO, o Alibaba iria procurar ser mais presente fora de sua terra natal. Assim, ele aumentaria seu faturamento, que um ano antes havia sido de US$ 1,9 bilhão.
O que a totalidade dos analistas não conseguiu antecipar, no entanto, foi a forma com que Ma e o Alibaba fariam isso. Enquanto os conhecedores do mercado esperavam que o gigante chinês fosse afogar o mundo em bugigangas baratas chinesas, Ma vislumbrava outro caminho. Meu propósito é aumentar a oferta de produtos estrangeiros na China, afirmou o fundador do Alibaba, em uma entrevista ao jornal de negócios americano Business Insider. Não queremos competir em outros países, mas, sim, dar a opção para seus pequenos e médios negócios usarem nossa plataforma para vender produtos em nosso país.
Essa estratégia vai na contramão do imaginado à época do IPO. Que o diga, R.J. Hottovy, analista da conceituda consultoria americana Morningstar O Alibaba tem potencial para se tornar a maior força da internet, assim que suas vendas dispararem fora da China”, escreveu Hottovy, em uma análise. Ele foi apenas uma das vozes que foi contrariada pela estratégia adotada pelo empreendedor digital chinês. Na China, não temos uma boa estrutura de varejo, ao contrário dos Estados Unidos, onde existe o WalMart, disse Ma. Lá o comércio eletrônico é complementar. Na China, somos essenciais.
No entanto, não é o medo da competição americana que, no momento, faz com que Ma não se disponha a abrir novos mercados ao redor do mundo. Figuram em primeiro lugar os números gigantescos do comércio eletrônico chinês. Em 2013, foram movimentados US$ 307 bilhões em compras na internet, no país. Em 2019, esse total deve mais do que triplicar, ultrapassando a barreira do trilhão de dólares em compras, segundo previsão da consultoria Forrester. E o Alibaba domina 80% do setor em sua terra natal a plataforma intermediou nada menos de US$ 240 bilhões, em vendas virtuais, em 2014.
Ou seja, mais do que medo de competir com a Amazon, a maior varejista eletrônica americana, Ma quer mesmo é permanecer absoluto em seu quintal. Tanto que a estratégia do Alibaba é a mesma no Brasil, onde o comércio eletrônico movimentou apenas R$ 31,8 bilhões, em 2014, e as grandes empresas ainda não aprenderam a transformar suas receitas em lucros. Nossa missão no Brasil, hoje, é mostrar as oportunidades para as pequenas e médias empresas do País na China, afirmou à Dinheiro Alex Tsai, diretor de desenvolvimento de negócios para a América Latina do Alibaba.
Estamos trabalhando para mostrar a eles as maneiras de exportar, quais os melhores parceiros e o que é necessário para emplacar no mercado chinês. Os produtos brasileiros vão fazer sucesso na China.” Claro que os brasileiros encontrariam dificuldades para competir com os chineses no quesito preço, mas Tsai vê outras saídas. O preço não é o único motivador de compra. Produtos únicos do Brasil têm mercado na China e no mundo. Alguns brasileiros já estão se arriscando no Alibaba, vendendo desde produtos típicos até joias e cabelo humano.
E quem comprou em setembro de 2014 ações do Alibaba não pode se queixar da estratégia adotada por Ma. A empresa teve faturamento de US$ 2,8 bilhões no ano fiscal de 2015, encerrado em março, um crescimento de 47%, na comparação com o ano anterior. Mesmo com os investimentos necessários para o IPO, a empresa teve lucro de US$ 463 milhões. Em seus dez meses de presença no pregão da bolsa eletrônica de Nova York, as ações tiveram uma valorização de 17%, em relação ao preço do IPO, que foi de US$ 68. Números que justificam seu valor de mercado, de US$ 200 bilhões.
Claro que vender os produtos made in China, a preços populares o que fez com que o Alibaba ficasse famoso pelo mundo continua fazendo parte de seu DNA. Além de ensinar os brasileiros a vender para a China, o foco do time liderado por Tsai é tornar o escoamento dos produtos adquiridos na plataforma mais rápida. Atualmente, trabalhamos para acabar com os atrasos nas entregas, afirma. O dólar também é um problema, mas esse não podemos controlar.”
Revista IstoÉ Dinheiro – SP