O tombo do mercado acionário chinês não deve ter grandes consequências para a economia do país, avalia o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard. Segundo ele, a “bolha estourou”, mas o impacto sobre a atividade econômica chinesa não será dos maiores, não havendo motivos para grandes preocupações.
Blanchard ressaltou ontem que o tamanho do mercado acionário chinês, comparando a capitalização das bolsas como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), é bem menor do que nos EUA, por exemplo. Além disso, a maior parte dos investidores de varejo não chegou a comprometer os ganhos que haviam sido obtidos com a valorização abrupta da bolsa, disse ele.
Em menos de um ano, o índice composto da Bolsa de Xangai subiu cerca de 150%, sem que dividendos ou fundamentos da economia justificassem o movimento, disse Blanchard. “A bolha então estourou, embora ainda tenha voltado nem perto dos níveis anteriores.” Nas últimas semanas, houve uma queda de cerca de 30%. Ontem, porém, as bolsas tiveram altas expressivas. O índice Xangai Composite subiu 5,8% e o mercado de Shenzhen avançou 3,8%.
Para Blanchard, é possível que o mergulho das ações tenha algum efeito pequeno sobre os gastos de consumo, mas não se trata de uma questão macroeconômica relevante para a China. “Acho que é algo bastante secundário.” Blanchard disse ainda que os chineses deveriam estar acostumados com a volatilidade dos mercados acionários. “Esse não é o primeiro, e não deverá ser o último.”
O economista-chefe do FMI afirmou também que o governo deve aceitar o fato de que “há um estouro da bolha”, que os preços estavam muito altos, e que eles têm que cair. Ao mesmo tempo, é “aceitável” tomar medidas para fazer o ajuste ocorrer de modo mais lento, mas é importante que as autoridades percebam que não podem levar as cotações para os níveis desejados por elas, sendo importante permitir que o ajuste ocorra.
Ao tratar do panorama para a economia chinesa, Blanchard afirmou que está em curso uma desaceleração do crescimento, que se deve em grande parte à queda do investimento imobiliário. Segundo ele, trata-se de um processo “desejável”, uma vez que havia gastos excessivos em construção. Além disso, o ritmo de crescimento do crédito “caiu das alturas para números mais razoáveis”, disse.
“O ajuste é saudável e deve continuar”, resumiu Blanchard. O Fundo manteve as projeções de crescimento para a China em 6,8% em 2015 e 6,3% em 2016, uma desaceleração considerável em relação aos 7,4% registrados no ano passado. Ele observou, porém, que há hoje mais incertezas quanto a essas estimativas.
O FMI trabalha com o cenário de que as autoridades chinesas vão permitir uma queda moderada do ritmo de crescimento. No entanto, se a desaceleração for muito mais rápida do que se espera, deverão ser tomadas medidas fiscais e monetárias para impedir uma perda de fôlego muito expressiva, disse Blanchard. Ao longo do tempo, porém, as autoridades vão deixar o PIB avançar a uma taxa mais fraca.
“Quando você olha além do que está ocorrendo no mercado acionário, não há nenhum motivo específico para que tenha havido uma perda de confiança”, afirmou o economista.
Valor Econômico – SP