11/06/2015 05:00
O Brasil está bem posicionado, na comparação com outros emergentes, para enfrentar a alta de juros nos EUA, diz Nick Robinson, chefe de renda variável da Aberdeen no país. A gestora escocesa possui mais de US$ 500 bilhões em ativos administrados globalmente, dos quais cerca de US$ 9 bilhões no mercado brasileiro. Desse total, 85% está alocado em ações e 15% em instrumentos de renda fixa. Em entrevista ao Valor, por e-mail, o gestor afirma que, localmente, os temas importantes do segundo semestre serão o desempenho da economia brasileira e o cumprimento do ajuste fiscal.
Valor: O último número do mercado de trabalho americano foi considerado forte e provocou reações nos ativos, com queda do Ibovespa na semana passada. Esse dado provoca mudança na visão da Aberdeen sobre o momento de alta dos juros nos EUA e seus efeitos para os mercados emergentes?
Nick Robinson Não realmente. Não mantemos uma visão sobre o momento exato em que os Estados Unidos elevarão suas taxas, já que para o investimento de longo prazo esse evento não é tão importante. Acreditamos que o ajuste brasileiro a juros mais altas nos EUA já está ocorrendo, tendo sido deflagrado em 2013, no “taper tantrum” [reação dos mercados à indicação do Fed de redução de estímulos monetários] original. Desde então, as taxas de juros têm subido e começamos a ver reformas positivas. Na comparação com outros emergentes, o Brasil está relativamente bem posicionado para lidar com as altas dos juros nos EUA. O país foi um dos primeiros a elevar taxas após o “taper tantrum” de 2013 e as reformas estão saindo, ou seja, o país já está tomando medidas para lidar com o ambiente de capitais globais mais restrito. Uma eventual normalização da política monetária nos EUA deveria ser vista como um bom evento, já que não é muito saudável a situação atual continuar indefinidamente. Isso porque as taxas de juros próximas de zero no mundo desenvolvido refletem economias que ainda estão tentando criar estímulos para sair de recessão e incentivando muitos empréstimos, assim os governos se endividam demais. A normalização é boa.
Valor: No segundo semestre, quais são os principais gatilhos para o mercado de ações brasileiro?
Robinson: São tanto locais quanto externos. Localmente, a severidade da recessão será importante para monitorar, bem como a disciplina do retorno brasileiro à responsabilidade fiscal. Apesar de dolorosa, a manutenção da disciplina será enormemente positiva no longo prazo.
Valor: Após a alta em abril, o Ibovespa passou por correção em maio, e ainda sobe no ano. Quais as perspectivas para o segundo semestre?
Robinson: Não temos uma visão forte sobre os movimentos do Ibovespa. Focamos em comprar ações de companhias de alta qualidade e em pagar preços razoáveis por elas.
Valor: Quais são os setores preferidos no mercado brasileiro?
Robinson: Negócios simples, com menos interferência governamental, as melhores administrações e balanços fortes que são capazes de gerenciar as fases difíceis de ciclos econômicos. Classificamos como negócios simples aqueles com modelos robustos e claros. Eletrobras não é um negócio simples, Arezzo é. Nossas maiores posições estão em companhias como Renner, Ultrapar, Multiplan e Bradesco.
Valor Econômico – SP