11/06/2015 às 05h00 Por Daniel Rittner e Murillo Camarotto | De Brasília À espera de detalhes do novo pacote de concessões de infraestrutura, o grupo CCR observa com apetite aguçado a lista de projetos apresentada pelo governo, mas promete não fazer loucuras. Dois aeroportos Salvador e Fortaleza e pelo menos três lotes de rodovias estão na mira da empresa, controlada por Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. A localização geográfica orienta o grupo na escolha dos empreendimentos que terão prioridade. Na última rodada de concessões, a CCR levou o aeroporto de Confins (MG) e a BR163 (MS). Uma das principais concessionárias do país, ela controla também a Nova Dutra rodovia que liga o Rio de Janeiro a São Paulo e o metrô de Salvador, em parceria públicoprivada (PPP) com o governo da Bahia. Para buscar sinergias com esses ativos, a empresa está de olho, por exemplo, na BR262 e na BR267, ambas no Mato Grosso do Sul. As duas rodovias recebem parte do fluxo dos caminhões que vêm da BR163 para escoar a safra de grãos pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). A mesma lógica explica o interesse da CCR pela concessão para as obras do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, projeto anunciado na terçafeira como parte de um lote encabeçado pela rodovia RioSantos, que tem investimentos estimados em R$ 3,1 bilhões. “Não temos tempo nem pessoal suficiente para analisar todos os projetos oferecidos pelo governo. Por isso, a geografia é um critério importante”, disse o presidente da CCR, Renato Vale, em entrevista ao Valor. No caso dos aeroportos, o interesse por Salvador se justifica, de acordo com o executivo, pela presença da companhia na administração do metrô da capital baiana. A segunda linha do metrô, ainda em fase de projeto, prevê uma estação no terminal de passageiros. “Estamos investindo R$ 4 bilhões no metrô de Salvador. Então, faz mais sentido estudar esse aeroporto do que Florianópolis ou Porto Alegre”, explicou Vale, referindose aos dois terminais da região Sul incluídos no plano recémlançado. Apesar de ainda não ter negócios no Ceará, a CCR também vê com atenção o aeroporto de Fortaleza, que tem potencial para tornarse um “hub” internacional para voos com destino à Europa, conforme aponta o executivo. Pelas regras em análise na Secretaria de Aviação Civil, no entanto, nenhum consórcio poderá arrematar dois aeroportos na próxima rodada de licitações. Outra vertente do novo pacote anunciado pela presidente Dilma Rousseff é a inclusão de obras adicionais em rodovias já concedidas. A CCR administra a Nova Dutra desde 1996 e negocia um investimento de R$ 2,3 bilhões na ampliação do número de faixas no trecho da Serra das Araras, em construção de pistas marginais na Baixada Fluminense e vias de acesso a municípios cortados pela rodovia. O aporte poderá ser compensado pelo governo de duas formas: extensão do contrato, que vence em 2021, ou aumento da tarifa de pedágio. “O projeto executivo de engenharia está pronto, assim como o orçamento e a parte ambiental”, afirmou Vale. Ele sinaliza preferência pela prorrogação do contrato de concessão, mas evita entrar em discussões sobre a taxa de retorno desses investimentos, que causou dores de cabeça ao governo no pacote de 2012. Vale não vê grandes dificuldades na menor participação do BNDES no financiamento das novas concessões e ressalta que a CCR está totalmente desvinculada da Operação LavaJato. A Camargo Corrêa, uma de suas acionistas, tem ficado em evidência por conta das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Para o executivo, a nova etapa de concessões federais demonstra que o governo vê a infraestrutura como solução para o desenvolvimento e a produtividade da economia. “Estamos satisfeitos e entusiasmados”, resumiu Vale, que aponta boas oportunidades de crescimento para o grupo. Ele alerta, no entanto, que uma fase crucial ainda vem pela frente: a definição das regras que vão balizar os leilões. “O diabo mora nos detalhes”, completou.
Valor Econômico – SP