26/05/2015 CARLOS RODOLFO SCHNEIDER – Empresário e coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE) O crescimento de um país é fortemente influenciado pela disponibilidade dos fatores de produção capital e trabalho. No que se refere ao capital, já tivemos experiências negativas no passado, com a excessiva dependência de empréstimos externos, pela falta de poupança interna. E essa carência de poupança permanece. Falando de trabalho, por outro lado, o Brasil alavancou parte do seu crescimento recente com a absorção de consideráveis contingentes de mão de obra que ainda estavam disponíveis. Essa ferramenta, todavia, esgotou-se quando atingimos a situação de pleno emprego, que desconsidera aqueles que não buscam trabalho por estarem acomodados nos programas salário-desemprego e bolsa família. Diante desse quadro, a ampliação dos fatores de produção depende fundamentalmente do crescimento da produtividade. Paul Krugman, Nobel de economia, afirmou que a capacidade de um país melhorar de padrão de vida depende quase inteiramente de sua capacidade para aumentar a produção por trabalhador. O Brasil não tem muito o quê mostrar em relação a isso. Entre os principais emergentes, foi o único a recuar nas últimas décadas. De 1990 a 2013, a nossa produtividade caiu 15% em relação à dos EUA. A Coreia do Sul, por outro lado, avançou 40%. De 2000 a 2008, a variação anual média no Brasil foi de (-) 1,8%, contra 2% na Turquia, 2,8% na Colômbia, 3,2% na Rússia e 4,8% na Coreia do Sul. Estudo realizado pela consultoria The Boston Consulting Group (BCG) mostra que a capacidade de competição da indústria brasileira foi amplamente afetada na última década. Foram analisados os custos de produção de 25 países, a partir de quatro fatores: salários na indústria, produtividade no trabalho, custo de energia e taxa de câmbio. O Brasil perdeu competitividade em todos os quatro. Salários mais elevados, que mais do que dobraram nos últimos dez anos, sem o crescimento da produtividade, são o grande problema. Esse descompasso ocorreu pela baixa oferta de mão de obra qualificada, falta de investimento, infraestrutura inadequada e burocracia excessiva, segundo o BCG. O forte aumento do custo da eletricidade para a indústria, que dobrou na última década, também foi destacado. Isso fez com que o custo de produzir no Brasil, que em 2004 era 3% mais baixo do que nos EUA, se tornasse 23% mais elevado. Se estabelecermos o índice 100 para os EUA, o custo de produção da indústria brasileira ficaria em 123 contra: 121 na Alemanha, 116 na Suécia, 115 no Canadá, 111 no Japão, 109 no Reino Unido, 99 na Rússia, 96 na China, 91 na Tailândia e México, 87 na índia e 83 na Indonésia. Segundo o BCG, esses números devem orientar as decisões de investimento, centrando a produção industrial nos países mais competitivos. A ascensão do México, estruturada com crescimento moderado de salários, ganhos de produtividade, taxa de câmbio estável e redução do custo da energia, deve estar no nosso radar. Não estamos bem na fotografia e as consequências já são visíveis a quase todos. E também sabemos o que deve ser feito. O que falta é vontade política e senso de urgência. Devemos deixar de nos conformar com o que é possível fazer, por questões políticas, e construir o caminho para o que é necessário. Os concorrentes certamente não nos aguardarão e as futuras gerações poderão não entender a omissão.
Brasil Econômico – SP