05-05-2015 16h00
Excetuando-se o atual mal-estar econômico, o Brasil cumpre os requisitos
(SÃO PAULO) Para entender o cenário do capital de risco no Brasil, acompanhe os smartphones não a economia.
Esse é o recado de Doug Leone, sócio da Sequoia Capital, um investidor inicial tanto do Google Inc. quanto do LinkedIn Corp. Sua empresa investiu no ano passado na Nubank, com sede em São Paulo, uma empresa de serviços financeiros baseados na tecnologia.
As startups locais estão colhendo os benefícios de uma comunidade internacional de capital de risco que está em busca de mercados com grandes bases desaproveitadas de consumidores que utilizam a internet. Excetuando-se o atual mal-estar econômico, o Brasil cumpre os requisitos: dezenas de milhões de pessoas entraram na classe média durante o boom de 10 anos das commodities.
Não há um mês sequer em que não analisemos alguma empresa brasileira, disse Leone em entrevista por telefone no mês passado, de Menlo Park, Califórnia. Observa-se que o Brasil ainda está moderado. Se as coisas começarem a mudar, haverá uma avalanche de investidores.
O Brasil tem 282,6 milhões de linhas de telefonia móvel, ou 1,39 por pessoa, e os usuários estão adotando rapidamente as tecnologias mais novas que conduzem ao uso da internet móvel, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em termos de uso, o Brasil é o quinto maior mercado de telefonia móvel do mundo, de acordo com o grupo de pesquisa Mobiforge.
Quatro vezes mais
A cambaleante economia brasileira não parece estar dissuadindo os investidores em capital de risco: as empresas quadruplicaram os investimentos no país no ano passado, para US$ 197 milhões, a cifra mais alta desde que a Associação de Private-Equity para Mercados Emergentes começou a compilar os dados em 2010. Sequoia, Amadeus Capital Partners e Phenomen Ventures dizem que pretendem fazer mais investimentos neste ano. Embora a China e a Índia sejam os principais destinatários de capital de risco entre os países em desenvolvimento, a fatia do total endereçada ao Brasil está crescendo.
E os brasileiros adoram a internet o setor preferido pelos investidores de capital de risco.
De acordo com a empresa de consultoria administrativa A.T. Kearney, 71 por cento dos brasileiros dizem se conectar à internet pelo menos uma vez por hora de atividade, a maior proporção entre os 10 países estudados. Mais da metade dos participantes diz que se mantém conectada de forma mais ou menos constante o dia inteiro.
População jovem
Isso significa que é possível chegar a consumidores muito específicos a qualquer hora, disse Hana Ben-Shabat, sócia da A.T. Kearney, em entrevista por telefone. Você pode chegar aos consumidores em qualquer lugar.
As vendas de smartphones aumentaram 7 por cento para 70 milhões de unidades no Brasil no ano passado, em comparação com a queda de 48 por cento nas vendas de telefones celulares comuns, de acordo com o grupo de consultoria Teleco. Nos dois primeiros meses de 2015, as vendas de smartphones avançaram outros 26 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior.
Além disso, a população é jovem. Dos cerca de 195 milhões de brasileiros em 2010, 52 por cento tinham menos de 30 anos, de acordo com dados das Nações Unidas. Só a Índia é mais jovem entre os países do grupo conhecido como BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China.
Os investimentos em capital de risco mais relevantes feitos no Brasil nos últimos doze meses visaram aproveitar esse potencial.
Hotel Urbano, um serviço brasileiro de reserva on-line de hotéis, recebeu US$ 52 milhões no ano passado, o maior financiamento de capital de risco do país no período. Os investidores foram a Insight Venture Partners, investidor inicial do Twitter Inc., e a Tiger Global Management, investidor inicial do Facebook Inc.
Easy Taxi, um aplicativo de transporte para telefones móveis parecido com o da Uber Technologies Inc., recebeu US$ 40 milhões em um financiamento liderado pela Phenomen Ventures, e a Movile, outra fabricante de aplicativos, recebeu US$ 35 milhões da Innova Capital.
Economia em queda
Todos esses investidores passaram por cima da previsão de que o PIB da oitava maior economia do mundo vai encolher e do fato de que a inflação já atingiu a maior alta em 11 anos.
Os analistas que acompanham a economia brasileira preveem que o PIB vai se contrair 1,18 por cento em 2015, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Banco Central em abril com cerca de 100 analistas e publicada na segunda-feira. A economia do Brasil se expandiu 0,1 por cento no ano passado. Os administradores de fundos dizem que isso não é suficiente para afastá-los.
Costumamos investir em tecnologias que mudam a forma em que as pessoas interagem umas com as outras e/ou com as empresas, disse Dmitry Falkovich, fundador da Phenomen Ventures, que investiu na Easy Taxi. Os ciclos econômicos de curto prazo não são importantes para esse tipo de investimento.
InfoMoney – SP