16/04/2015 05:00
Por Silvia Rosa e Lucinda Pinto
A percepção de que o banco central dos Estados Unidos não está com pressa para subir a taxa básica de juros e a melhora do ambiente doméstico têm contribuído para o aumento do fluxo de recursos para o mercado brasileiro e dado suporte à queda dos prêmios de risco no mercado futuro de juros. Ontem, a moeda americana recuou pelo segundo pregão e fechou em queda de 0,85%, a R$ 3,0358. As taxas de juros futuros com prazos mais longos acompanharam esse movimento. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 recuou para 12,4% ante 12,42% do ajuste do pregão anterior, enquanto o DI para janeiro de 2017 caiu para 12,95% de 12,96%. Dados mais fracos que o esperado nos EUA, divulgados ontem, e o fato do Livro Bege não ter trazido nenhuma surpresa ajudaram a reforçar a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve adiar a elevação dos juros no país. O dólar caiu em relação às principais dividas internacionais. Com a menor aversão a risco no exterior e a melhora local, os investidores começam a retomar o apetite por operações de “carry trade”. E o Brasil, com uma das maiores taxas de juros do mundo com a Selic em 12,75% ao ano, tende a se beneficiar desse fluxo. “Temos visto um aumento do interesse por essas operações, uma vez que o dólar já atingiu um nível mais atraente”, disse Ilan Solot, estrategista de mercados emergentes do Brown Brothers Harriman & Co em Londres.
A nomeação do vice-presidente Michel Temer (PMDBSP) como articulador político do governo ajudou a reduzir a tensão entre o Executivo e o Congresso, o que pode ajudar a conquistar o apoio da base aliada para aprovação das medidas de ajuste fiscal. “Consolidouse a expectativa de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai entregar medidas fiscais satisfatórias, a despeito do antagonismo visto dentro do próprio partido”, diz Solot. A diminuição do estresse no campo e expectativa de divulgação do balanço auditado da Petrobras de 2014 neste mês contribuem para o alívio da pressão de alta do dólar que se observa em abril. O dólar acumula desvalorização de 4,90% no mês. Para o economista para a América Latina do Standard Chartered Bank, Italo Lombardi, a redução da volatilidade do câmbio, com o dólar se estabilizando em um patamar mais alto, e a perspectiva de que o Fed vai demorar para subir os juros aumentam a atratividade das operações de “carry trade” com o real. Ontem, o Banco Central divulgou o fluxo cambial, que ficou positivo em US$ 1,776 bilhão na semana passada, resultado de uma entrada líquida de US$ 1,748 bilhão na conta financeira e de um superávit de US$ 29 milhões na conta comercial. No mês, até o dia 10, o fluxo cambial está positivo em US$ 969 milhões, acumulando saldo positivo de US$ 5,733 bilhões no ano. Apesar do alívio do câmbio, Lombardi, do Standard Chartered, avalia que seria precipitado o BC desacelerar o ritmo de aperto monetário na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom em abril. ” A nossa visão é que parte final de taxa de juros no Brasil é uma questão de reafirmar a credibilidade e ter certeza de que a alta da inflação no curto prazo não vai ter efeito de segunda ordem do que de fato um aumento para controlar a inflação”, afirma. O banco mantém a previsão de uma alta de 0,5 ponto percentual em abril e mais 0,5 ponto até o fim do ano, com a Selic encerrando 2015 em 13,75%.
Valor Econômico – SP