31/03/2015
Orçado em R$ 600 milhões, projeto do Terminal Graneleiro da Babitonga abre série de AN que destacará boas iniciativas que vêm da região em um ano difícil para a economia
O empresário catarinense Alexandre Fernandes está acostumado a tratar de investimentos milionários. Ex-secretário de Articulação Internacional do governo do Estado, ele ajudou a formular a estratégia que atraiu a BMW para Araquari. Agora, está na linha de frente de outro megaempreendimento previsto para a região: o Terminal Graneleiro da Babitonga (TGB). Fernandes apresentou detalhes do projeto em reunião da Associação Empresarial de Joinville (Acij) realizada ontem à noite.
Os detalhes do projeto do TGB abrem a série de reportagens Xô, Crise, que vai destacar ao longo dos próximos dez dias, ações e investimentos que empresas da região Norte estão implementando para superar a crise. O objetivo da iniciativa é valorizar o empreendedorismo local e aqueles que conseguem enxergar além, mesmo em momentos críticos.
O TGB será erguido na Estrada Laranjeiras, na zona portuária de São Francisco do Sul, e receberá um investimento totalmente privado que chega a R$ 600 milhões. Com área ocupada de 601 mil m², terá capacidade para movimentar até 14 milhões de toneladas de produtos como soja, milho, açúcar e farelo de soja. Traduzindo em números, isto seria o equivalente a uma geração de receitas, inicialmente, de cerca de US$ 170 milhões, calcula o empresário.
O terminal vai atender à demanda de exportação de açúcar e grãos de países como China e Emirados Árabes. O potencial do agronegócio justifica: as safras de grãos vêm batendo recordes. Por isso, nem mesmo a atual crise esfria os ânimos do investidor.
Não estamos tirando o pé do projeto garante Fernandes.
Durante a fase de implantação, a expectativa é de que aproximadamente mil vagas de trabalho sejam abertas. Na fase operacional, o TGB vai gerar 295 empregos diretos. O relatório de impacto ambiental do projeto já foi protocolado na Fatma. Agora, a espera é pela liberação das licenças que permitam o início das obras.
Fernandes é cauteloso ao falar de prazos, mas acredita que, com todas as licenças em mãos, é possível viabilizar o empreendimento em um prazo máximo de 28 meses. Uma ação do Ministério Público Federal (MPF) que questionava alterações no Plano Diretor e na Lei de Zoneamento Urbano de São Francisco do Sul que teriam, segundo a denúncia, favorecido a implantação do TGB foi negada pela Justiça e não deve ser um empecilho para o andamento do projeto.
Envolvimento social
Durante a apresentação, Fernandes explicou que a questão social é um aspecto importante do empreendimento. Para dissipar as dúvidas da comunidade, o TGB realizou quatro pré-audiências públicas em São Francisco para explicar detalhes do projeto antes da audiência oficial, que reuniu cerca de 700 pessoas.
As pessoas são contra quando elas têm medo, então procuramos desmistificar a obra disse.
Além da preocupação em estabelecer um diálogo com a comunidade, os investidores estão prevendo uma série de obras como contrapartida do empreendimento, entre elas, a instalação de 16 pontos de ônibus cobertos e melhorias em hospital, escolas e vias de acesso, além de parcerias com instituições de ensino da região para capacitação de profissionais.
Impulso para melhorias logísticas
O projeto do TGB prevê a instalação de um píer de atracação com 316,8 metros de extensão, com dois berços localizados em um canal de 14 metros de profundidade. Esta estrutura estará conectada à retroárea por meio de uma ponte de 375 metros de comprimento, por onde as cargas passarão com destino a gigantescos silos, capazes de armazenar mais de 24 mil caminhões de açúcar, 12 mil caminhões de grãos (soja e milho) e mais de cinco mil caminhões de farelo de soja.
O TGB também contará com um ramal ferroviário, que poderá atender a uma composição com até 800 metros de comprimento. Ele será instalado inteiramente dentro do terminal, o que garantirá que as manobras de trens não comprometam o trânsito externo. Os veículos poderão ser descarregados sem a necessidade de quebra ou parada de composição, apenas reduzindo a velocidade.
Todo este potencial ainda deve estimular o desenvolvimento da infraestrutura logística para exportação da região, avalia Fernandes. Apesar de o projeto prever o escoamento das mercadorias, principalmente, por ferrovias, ele também exigirá boas condições rodoviárias para a circulação de caminhões. E é aí que entra, também, a expectativa por um desfecho envolvendo o lote 1 da BR-280, trecho de 36 quilômetros entre a BR-101 e o Porto de São Francisco do Sul, que já está licitado, mas sem previsão de emissão da ordem de serviço para o início das obras.
Um terminal como o nosso vai botar mais pressão no governo federal para esse investimento acredita o empresário.
Parte do gargalo que envolve embarques de produtos brasileiros para o exterior também deve ser amenizada com o empreendimento. Segundo dados de 2013 da agência marítima Williams Brasil, subiu de 32 para 49, em novembro daquele ano, o número de navios que aguardavam para embarcar açúcar nos portos brasileiros.
Projeto nasceu em 2007
O catarinense Alexandre Fernandes é um dos três sócios do terminal graneleiro. Os outros dois são internacionais: a Al Khaleej Sugar, dos Emirados Árabes Unidos, maior refinaria independente de açúcar do mundo e uma das maiores compradoras deste insumo do Brasil; e a Nidera Sementes, da Holanda, especializada em serviços de processamento, armazenagem e logística de grãos e oleaginosas, com subsidiárias em mais de 20 países.
O namoro com árabes e holandeses começou em 2011, mas o empresário catarinense conta que já desenhava o empreendimento na região desde 2007. A decisão por São Francisco do Sul acabou sendo fácil: a Estrada das Laranjeiras está a apenas dois quilômetros da BR-280 e a apenas três da linha férrea operada pela ALL, diferenciais logísticos que facilitam a operação.
É o lugar ideal resume o empresário.
Além disso, o governo do Estado já firmou protocolo de intenções se comprometendo a construir dois acessos ligando a linha férrea no terminal da BR-280 ao TGB.
A Notícia (Joinville) – SC