05/03/2015 às 05h00
Por Fábio Pupo | De Curitiba
A empresa de concessões de infraestrutura CCR que tem entre os controladores os grupos Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa enfrenta um cenário de crédito mais caro, além de observar um comportamento mais cauteloso de bancos após a Operação LavaJato. No entanto, a diretoria da companhia crê que os efeitos financeiros das investigações são limitados para a CCR. A ideia de venda de ativos para ajudar acionistas, por exemplo ventilada pelo mercado financeiro , é classificada pela empresa como “disparate”. “Nossa percepção é de que o que está acontecendo é um efeito colateral desse assunto da Petrobras. Essa operação gerou um alarme na área de “compliance” nos bancos. Diante dessa incerteza, o mercado naturalmente fica mais seletivo, fica mais caro”, diz Arthur Piotto, diretor financeiro e de relações com investidores da CCR. “Nós não temos enfrentando qualquer tipo de dificuldade. Agora, é claro que o empréstimo está mais caro”, completa. Ele diz que, além dos efeitos das investigações, o aumento da taxa básica de juros é responsável pelo encarecimento. Segundo Piotto, a CCR está tranquila. Ele diz que a companhia vem recebendo recados de bancos públicos de que há crédito disponível para a companhia. O executivo afirma que foram contratados mais de R$ 2 bilhões para os vários projetos do grupo nos últimos dois meses. “O crédito está mais seletivo, está mais caro… mas está aí. Os bancos não podem parar de emprestar dinheiro, só vão escolher melhor os riscos. O poder de barganha está pendendo para o lado deles”, diz. Apesar desses efeitos, a CCR não vê grandes chances de sofrer um impacto maior decorrente da LavaJato. A Brasil Plural Corretora, por exemplo, divulgou relatório no começo do ano afirmando que a CCR poderia enfrentar um cenário de restrição de crédito e até ter de vender ativos para gerar dividendos maiores para acionistas (a Andrade e Camargo têm suas construtoras sendo investigadas pela Operação LavaJato e poderiam enfrentar limitações de contratação de crédito na visão dos analistas). “É um disparate total [a ideia de vender ativos para ajudar controladores]. Nenhum dos acionistas está precisando de caixa, ou está com dificuldade de crédito. E ele [acionista] não decide as coisas sozinho. Até seria possível, mas na prática não temos qualquer indicação disso. A chance é praticamente nula”, diz Piotto. O custo maior do crédito no mercado narrado pelo executivo deve ajudar a aumentar o endividamento da companhia em 2015. Além do encarecimento, haverá necessidade de contratar mais dívidas para os vários projetos em carteira. A estimativa inicial de investimentos para o ano é alta, de R$ 4,8 bilhões. Em 2014, em comparação, foram investidos R$ 2,3 bilhões. Atualmente, o endividamento (medido por dívida líquida sobre o Ebitda dos últimos 12 meses) alcançou 2,4 vezes mas deve aumentar ao longo de 2015. A companhia só não pode ultrapassar o número de 3,5, exigido por contratos de dívida. Segundo Piotto, a companhia está segura de que não vai passar a marca. “Nem no ponto máximo de alavancagem, em todas as simulações internas, nós chegamos perto dele”, diz. O executivo afirma que há espaço para participar de novos leilões, como a Ponte RioNiterói. Esse ativo é atualmente administrado pela CCR, mas o contrato com o governo federal vence em maio. O novo leilão está marcado para 18 de março. “Nós operamos o ativo, temos desejo de continuar com ele, mas a decisão não está tomada. Os estudos todos foram feitos, mas falta uma decisão interna da companhia. Isso ocorre alguns dias antes da entrega da proposta, depois de os acionistas controladores terem uma melhor visão e considerarem a rentabilidade que o projeto pode produzir considerando o cenário atual”, diz Piotto. O executivo afirma ainda que a CCR também tem espaço no balanço para a compra de ativos (o chamado mercado secundário). Mas descarta a compra da fatia da Invepar (companhia de concessões controladora do aeroporto de Guarulhos e diferentes rodovias), que está sendo vendida pelo grupo OAS e desperta interesse de investidores da área financeira como GP e Advent. “A possibilidade de a gente comprar um portfólio completo, com um grande numero de negócios, é baixa. Além disso, a CCR jamais consideraria comprar uma participação numa empresa concorrente”, afirma Piotto. A CCR registrou um lucro contábil de R$ 383,9 milhões no quarto trimestre de 2014, o que representa um aumento de 25,3% em relação ao mesmo período de um ano antes. Os números foram influenciados por uma receita maior e por um efeito não recorrente. Segundo a CCR, no balanço do quarto trimestre de 2014 houve “baixa do saldo de retenções de pagamentos aos exacionistas da SPVias no montante de R$ 100,3 milhões, em cumprimento a itens contingentes do contrato de compra e venda desta concessionária”. Ou seja, esse montante era uma contingência da CCR, criada na época de negociação de compra da SPVias, que agora foi “sacado” e incorporado ao resultado. Caso sofresse ajuste em decorrência desse e de outros efeitos (como exclusão de negócios ainda não operacionais), o lucro computado seria de R$ 343,8 milhões o que representaria uma queda de 10,7% em relação a um ano antes. O resultado contábil foi impulsionado ainda pelo aumento de 10,9% na receita líquida, para R$ 1,52 bilhão. Foi registrado um Ebitda de R$ 1,02 bilhão no período, aumento de 5%. A margem Ebitda, no entanto, caiu 3,8 pontos percentuais, para 67,2%. O grupo fechou dezembro com uma dívida líquida de R$ 8,8 bilhões. O endividamento (considerando a relação dívida líquida sobre ebitda dos últimos 12 meses) alcançou 2,4 vezes. No quarto trimestre, foram investidos R$ 725,9 milhões. O montante foi desembolsado principalmente nas controladas CCR Metrô Bahia, CCR MSVia, CCR NovaDutra, CCR SPVias, CCR RodoNorte e CCR AutoBAn. Para 2015, os investimentos estimados pelo conjunto de empresas controladas pelo grupo chegam a R$ 4,808 bilhões.
Valor Econômico – SP