28/01/2015 – 05:00
Por Talita Moreira
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conseguiu reconquistar a confiança dos investidores de portfólio estrangeiros, que voltaram a marcar presença na bolsa brasileira nas últimas semanas, afirmou ontem o presidente do Credit Suisse no país, José Olympio. Porém, a manutenção desse cenário depende de uma sinalização da presidente Dilma Rousseff de que apoia o trabalho da equipe econômica.
“O investidor externo está em lua de mel com o Brasil”, disse Olympio durante conferência promovida pelo banco com investidores. Segundo ele, a corretora do Credit Suisse detectou, nas últimas três semanas, um equilíbrio entre os fluxos de estrangeiros e brasileiros para a bolsa, “o que não se via há muito tempo”.
De acordo com o banqueiro, o interesse dos investidores estrangeiros não se deve apenas ao fato de que o preço dos ativos brasileiros caiu e ficou mais atraente. Para ele, o movimento recente também decorre de uma aposta em melhorias na economia.
Para Olympio, o novo ministro tem grande credibilidade e reforçou essa boa imagem com sua participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos.
No entanto, segundo o banqueiro, falta agora a presidente Dilma Rousseff mostrar que está alinhada com a equipe econômica para que a volta da confiança se consolide. “O mercado é muito atento a sinais”, ressaltou. Segundo ele, um recuo na proposta do governo para restringir o acesso ao seguro-desemprego, por exemplo, seria um gesto muito negativo.
“Até agora, está indo tudo bem, mas ainda há um grande ceticismo, principalmente entre os brasileiros”, afirmou o banqueiro.
Grandes investidores nacionais, de fato, se mostram mais pessimistas diante de um cenário de baixo crescimento econômico, dúvidas sobre a efetividade do ajuste fiscal e um possível racionamento de energia.
“A gente está a anos-luz de um encaminhamento. As coisas não estão boas e os preços dos ativos ainda estão muito altos”, disse Rogério Xavier, sócio-fundador da gestora de recursos SPX. Para ele, um dos agravantes à situação da economia brasileira são as intervenções do Banco Central no câmbio, que impedem que a moeda brasileira encontre seu real ponto de equilíbrio. “Todas as moedas estão ‘aceitando’ a desvalorização e a gente está fazendo o contrário”, disse. “De um lado, a gente está tentando tirar o paciente da UTI [com as medidas de ajuste fiscal] e de outro está cometendo os mesmos erros dos últimos anos.”
Para Luis Stuhlberger, sócio e gestor da Verde Asset Management, um dos poucos caminhos que restam ao país para gerar riqueza neste momento passa pela desvalorização cambial. “Só que os gringos não acham isso. Veem o Joaquim Levy e colocam mais dinheiro”, afirmou, durante debate no evento do Credit Suisse. Segundo ele, a percepção dos estrangeiros e as intervenções impedem que o real se desvalorize mais.
André Jakurski, sócio-fundador da JGP, afirmou que o custo de lutar contra a desvalorização se reflete no CDI. “O diferencial de taxas está muito alto”, ressaltou. Para ele, o Brasil está cometendo uma “insanidade” ao não deixar o câmbio encontrar seu real ponto de equilíbrio. “Se você não tem produtividade, não tem competitividade e está com a indústria destruída, não é a opção correta.”
Valor Econômico – SP