25/01/2015 02h00
Desde 2013, a economista paulista Maria Helena Santana, 55, divide seu tempo entre os conselhos de administração da varejista Pão de Açúcar, da empresa de energia CPFL e da companhia de tecnologia Totvs.
A rotina da ex-presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que participa ainda do comitê de auditoria do Itaú Unibanco, é uma exceção entre as executivas brasileiras. O país é um dos que menos possuem mulheres nos conselhos de suas grandes empresas.
Na comparação com outros 20 países, o Brasil fica à frente somente do Japão. A análise considera o percentual de assentos ocupados por executivas no conselhos de administração das companhias que compõem o índice da Bolsa de cada nação.
O levantamento com as empresas estrangeiras foi divulgado pela organização americana Catalyst, que pesquisou a situação em países da América do Norte, da Europa e da Ásia. Já o das empresas do Ibovespa, o índice da BM&FBovespa, foi feito pela Folha.
No Brasil, as 63 empresas do índice têm 584 assentos em seus conselhos de administração, o órgão encarregado de orientar e supervisionar a atuação dos executivos das companhias. Desses, só 6% são ocupados por mulheres.
O seleto grupo tem 34 executivas, que ocupam 36 assentos. Ao menos 9 delas, no entanto, são sócias ou herdeiras dos controladores.
“Sinto muita falta. É uma desproporção muito grande entre competência e cargo ocupado na alta administração. Sinaliza uma evolução incompleta das empresas”, diz Santana, que é a única mulher em todos os três conselhos de administração dos quais participa.
O número de membros do conselho é definido por cada empresa. Em geral, há de 5 a 11 conselheiros. Há casos, porém, em que o número é muito maior. Na companhia de energia Cemig, são 15. Não há, contudo, uma única mulher.
A BB Seguridade, subsidiária do Banco do Brasil, é a companhia que possui maior representatividade feminina. No conselho da empresa de seguros, um terço dos membros é mulher (duas mulheres e quatro homens).
O número reduzido de participantes contribuiu. Nenhuma das companhias do Ibovespa possui mais de duas executivas no conselho.
“A participação delas tem diminuído, aliás. Para que haja mulheres em conselho, é preciso haver mulheres em diretorias. E isso não tem evoluído muito no Brasil”, diz Regina Madalozzo, pesquisadora do Insper que estuda à atuação da mulher no mercado de trabalho.
Segundo a consultoria Grant Thornton, apenas 22% dos cargos de alta administração são ocupados por mulheres no Brasil. O percentual é menor do que o verificado na Argentina, no Chile e no Peru, por exemplo.
CULTURA
De acordo com Madalozzo, a questão cultural ainda é o grande empecilho para a ascensão das mulheres, indicam pesquisas recentes.
A tendência, explica, é que os executivos procurem eleger candidatos com perfil similar ao deles. E, como não há mulheres nessas posições, a escolha por um homem tende a prevalecer.
Outra barreira é a exigência de experiência anterior. Como há poucas mulheres participando de conselhos, poucas tornam-se elegíveis ao posto.
Na Noruega, desde 2003 a lei exige que 40% dos assentos em conselhos sejam ocupados por mulheres. França, Espanha e Alemanha seguiram o exemplo.
Para o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), a criação de cotas não é a solução ideal. É preciso que as empresas se empenhem em dar mais oportunidades às mulheres.
“A empresa tem de fazer um esforço, porque isso não vai acontecer naturalmente. É nadar contra o fluxo”, diz Sandra Guerra, presidente do conselho da entidade.
Folha de S. Paulo – SP