21/01/2015 – 05:00
Por Antonio Perez e Lucinda Pinto
Os investidores celebraram ontem na BM&F as medidas fiscais anunciadas na segunda-feira à noite pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com um corte expressivo dos prêmios de risco. Segundo analistas, o conjunto de aumento de impostos não apenas torna crível a obtenção de superávit primário de 1,2% do PIB em 2015 como reforça a autonomia da nova equipe econômica.
Já alvejada pela alteração nas regras de concessão de benefícios como o seguro-desemprego e o fim do socorro do Tesouro Nacional ao setor elétrico, a tese ceticismo em torno da mudança de rota da política econômica – alardeada por parte dos analistas para sustentar os prêmios de risco – parece ter feito água. Não apenas pela recomposição da capacidade de arrecadação, mas também pelos sinais de que o governo não vai mais apelar para o represamento de preços para controlar a inflação no curto prazo.
“O fato de as medidas terem sido anunciadas após a reunião de Levy com a presidente Dilma [Rousseff] foi simbólico, ao mostrar que ele tem o aval dela”, diz o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal. “Além disso, Levy disse que a definição do preço da gasolina cabe à Petrobras, mostrando que neste novo governo Dilma as regras de mercado serão respeitadas”.
Na BM&F, o contrato futuro de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2021 – mais ligado à percepção de risco – caiu de 12,05% para 11,79% ontem. Entre as taxas intermediárias, o DI para janeiro de 2017 cedeu de 12,41% para 12,30%, perdendo os prêmios que haviam sido incorporados na sessão de segunda-feira, por conta dos riscos de racionamento desencadeados pelo apagão nas regiões Sul e Sudeste.
Se no médio prazo o aperto fiscal e o fim da interferência direta do governo no sistema de preços tende a contribuir para o controle da inflação, ao ajudar o Banco Central (BC) no trabalho de ancorar as expectativas, no curto prazo as medidas da Fazenda se traduzem em IPCA mais gordo. Para Leal, do Banco ABC, a inflação certamente supera 7% neste ano, situando-se, portanto, acima do teto de tolerância da meta (6,5%).
Com esse quadro, não há clima para que o Comitê de Política Monetária (Copom) diminua o ritmo de aperto monetário ou sugira, em seu comunicado, que está pronto para encerrar o ciclo de alta da Selic. Na BM&F, as taxas futuras espelham 98% de chances de que o colegiado do BC anuncie hoje elevação do juro básico em 0,50 ponto percentual, para 12,25% ao ano. E a perspectiva é de que o aperto tenha continuidade em março, com as apostas basicamente divididas entre outra dose de 0,50 ponto e uma alta menor, de 0,25 ponto.
Embora não assegure que o IPCA fique abaixo de 6,5% neste ano, esse aperto pode contribuir para conter as expectativas de inflação em 2016. Com ajuste fiscal, aumento da credibilidade do BC e ausência de depreciação aguda do real, as projeções para a inflação no ano que vem podem começar a ceder nos próximos meses. No boletim Focus desta semana, a mediana das projeções para o IPCA em 2016 é de 5,7%, um sinal de que a “batalha das expectativas” ainda está por ser vencida.
Valor Econômico – SP