28/12/2014
FABÍOLA COSTA
Em 2014, Juiz de Fora foi alvo de R$ 106,2 milhões em investimentos formalizados junto ao Governo estadual, com geração de 490 empregos diretos em quatro projetos nos setores de metalurgia, papel e celulose, construção civil e e-commerce. No ano anterior, foram R$ 26,7 milhões com geração de 273 empregos em cinco projetos nos setores de biodiesel, agronegócio, alimentos e bebidas, elétrico e eletroeletrônicos, embalagens e plásticos para construção. Os dados divulgados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico referem-se a protocolos formalizados entre janeiro e novembro, com assistência do Instituto de Desenvolvimento Integrado (Indi).
Com investimento quase quatro vezes maior do que o de 2013 e considerando que os projetos anunciados, via de regra, não são concretizados no mesmo ano e, mesmo se o fossem, exigiriam tempo para maturação -, a avaliação prevalente é que 2014 tem sido um ano difícil, mas 2015 pode ser melhor. Este ano, o município manteve-se em sétimo lugar em arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no estado, acompanhou a retração na demanda por investimentos e a reprogramação de negócios já formalizados, enfrentou queda de 60% no saldo de empregos formais, viu a indústria com dificuldade de retomar a atividade e o comércio com desempenho fraco na maior parte do ano, concentrando toda a sua esperança no Natal. Tanto os dados referentes ao ICMS (Secretaria de Estado da Fazenda) quanto os do saldo de empregos (Ministério do Trabalho e Emprego) também referem-se ao acumulado do ano até novembro ante igual período de 2013.
O Aeroporto Presidente Itamar Franco conquistou o interesse da Gol, enquanto o Aeroporto Francisco Álvares de Assis, o Serrinha, segue sem operações comerciais desde abril. O Expominas continua subutilizado. A Mercedes-Benz, uma das principais arrecadadoras da cidade, passou o ano adotando medidas de contenção da produção e surpreendeu ao anunciar a transferência da fabricação de caminhões para São Bernardo do Campo, em São Paulo. O modelo Acello, que concentra mais de 90% da produção juiz-forana, estimada entre 12 e 13 mil unidades por ano, parte em 2016. Em contrapartida, a montadora promete, no mesmo ano, centralizar a produção de cabinas e pinturas de todos os veículos da marca na cidade.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Geração de Emprego e Renda, André Zuchi, 2014 tem sido um ano difícil para investimentos. Além da retração na procura de empresas para novos projetos, parte dos investimentos em andamento foi reprogramada, comenta. Tivemos que conviver com essa dificuldade da economia nacional que se reflete na local. Apesar de não acreditar em cenário macroeconômico muito diferente do atual, Zuchi aponta boas perspectivas em relação a investimentos previstos para 2015, como a Brafer Construções Metálicas (protocolo assinado em 2010), o Centro de Distribuição (CD) do Grupo ABC, o início das obras de expansão do Independência Shopping, o início da operação do Shopping Jardim Norte e o CD da Fiat, cujo início das importações está previsto para março. Apesar da dificuldade nacional, vejo uma janela de oportunidades para manter o ritmo igual ou um pouco melhor em função de investimentos públicos e privados.
Para o secretário, a Parceria Público-Privada formalizada esta semana e o interesse da Gol em oferecer voos no Itamar Franco a partir de março, caso a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorize, permitirá ganho de competitividade com reflexos na cidade, favorecendo a busca por novos empreendimentos. Além dos investimentos em infraestrutura realizados pela Prefeitura, Zuchi cita a melhoria dos acessos rodoviários para o Rio de Janeiro, a duplicação da descida da Serra de Petrópolis e a concessão do trecho até Brasília, que, na sua opinião, também favorecem a operação logística na cidade.
Apesar da crise nacional, o secretário destaca a melhoria do ambiente de negócios e lista vantagens do município, como o projeto do Parque Científico e Tecnológico de Juiz de Fora e Região e os condomínios empresariais principalmente ao longo da BR-040, que, segundo ele, vão amadurecer a partir do próximo ano, dinamizando a economia. Apesar de toda a dificuldade, organizou-se uma infraestrutura necessária para dar competitividade ao município na atração e disputa por investimentos. Cabe a nós demonstrarmos competência, união e articulação para que façamos da prospecção um investimento de fato.
Para o coordenador dos cursos de Economia e Administração das Faculdades Integradas Vianna Júnior, Silvio Reis de Almeida Magalhães, não dá para pensar em Juiz de Fora como uma economia dissociada da nacional e internacional. Por isso, as perspectivas para 2015 não são tão favoráveis, diz. Para ele, será mais um ano de retração, com aumento de impostos e menos dinheiro em circulação, reduzindo o ritmo econômico. Não digo que entremos em recessão, mas estagflação (aumento da taxa de desemprego combinado com inflação aumento contínuo dos preços).
Se os reflexos para Juiz de Fora são inevitáveis, para o coordenador, em uma cidade prioritariamente de serviços há a necessidade de empresas e empregos com maior valor agregado para garantir maior movimentação econômica e retenção de mão de obra qualificada. Da forma atual, vira uma cidade dormitório. Estamos perdendo cérebros.
Aeroporto regional ganha fôlego
Dentre os vetores de desenvolvimento da cidade e região, o Aeroporto Itamar Franco saiu na frente. Com a assinatura, esta semana, do acordo de concessão junto ao Consórcio Aeroporto Zona da Mata, formado pelas empresas Socicam e Universal Armazéns Gerais e Alfandegados, o terminal passa a ser administrado através de Parceria Público-Privada a partir de 1º de janeiro. A intenção do Governo é garantir o fomento dos transportes de passageiros e de cargas.
No início do mês, a Gol anunciou que pretende operar no terminal a partir de 2015. Além dos dois voos diários regulares para Belo Horizonte (Aeroporto Internacional de Confins/Tancredo Neves) e prosseguimento, sem troca de aeronave, para o Aeroporto de Congonhas (São Paulo), os passageiros poderão contar com oferta de voos regulares para destinos internacionais, como Buenos Aires (Argentina), Lisboa (Portugal) e Punta Cana (República Dominicana). Os voos internacionais, partindo de Confins, serão realizados com empresas parceiras. A intenção é iniciar a oferta de seis voos semanais a partir de 23 de março. A operação, no entanto, ainda depende de aprovação da Anac.
O Aeroporto Francisco Álvares de Assis segue sem voos comerciais desde abril, desde que a Azul Linhas Aéreas decidiu transferir as operações para o Itamar Franco. A Tribuna procurou a Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra), que não se posicionou sobre o assunto. Conforme o secretário de Desenvolvimento Econômico, André Zuchi, há a intenção de estimular a aviação executiva e o táxi aéreo no Serrinha, projeto que será fomentado no próximo ano.
Já o Expominas segue subutilizado. Conforme informações da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), apesar da previsão de 14 eventos este ano, foram realizados apenas sete, a metade. Conforme a assessoria, os organizadores teriam atribuído os cancelamentos e/ou adiamentos à conjuntura econômica e política. O ano de 2014 foi de grande dificuldade para o setor de eventos corporativos em todas as regiões do estado. A realização da Copa do Mundo e as eleições impactaram fortemente na demanda por eventos no Expominas Juiz de Fora.
Conforme a Codemig, muitos dos projetos adiados já estão confirmados para o próximo ano. A previsão para 2015 é de cerca de 15 eventos. Segundo a companhia, apesar da conjuntura econômica e política do país, a equipe do Expominas Juiz de Fora tem trabalhado para aperfeiçoar a comercialização dos espaços por meio de ações de comunicação e estreitamento de relacionamento com o trade turístico juiz-forano. Um projeto de comunicação exclusivo para o Expominas Juiz de Fora foi elaborado e já está sendo executado, com o objetivo de aumentar a ocupação dos espaços. Apesar de reconhecer dificuldades vividas pelo Expominas, o posicionamento é que há boas perspectivas e confiança de recuperação para o setor no próximo ano.
Cabe a nós demonstrarmos competência, união e articulação para que façamos da prospecção um investimento
de fato
André Zuchi
secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Geração de Emprego e Renda
Não espero um 2015 pior do que 2014. Nada pode ser pior
Emerson Beloti
presidente do
Sindicato do Comércio
Eleições e Copa apontadas como vilãs
Não espero um 2015 pior do que 2014. Nada pode ser pior, desabafa o presidente do Sindicato do Comércio (Sindicomércio), Emerson Beloti. Segundo ele, os segmentos que não dependem do Natal fecham o ano com resultado igual ao de 2013, o que, no final das contas, significa perda, já que os custos de manutenção do negócio aumentaram de um ano para o outro. Nos setores diretamente relacionados à data, o Natal é considerado um alento. Para a maioria foi um ano muito difícil. Sobre 2015, Beloti preocupa-se com o comportamento inflacionário e com a elevada carga tributária incidente sobre pequenas e médias empresas, a maioria dentre os negócios locais. Torço para que as incisões que o Governo fizer não sacrifiquem as pequenas e médias empresas porque delas depende a empregabilidade.
Na avaliação do presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Marcos Tadeu Casarim, 2014 foi um ano atípico, com eleições e Copa do Mundo, que beneficiaram alguns setores, como o de lazer, e prejudicaram outros, como o varejista. Na sua opinião, as vendas de final de ano vão contribuir para recuperar os setores mais prejudicados, possibilitando a eles fechar o ano com saldo positivo. O brasileiro não consegue economizar mais do que já economiza. Não dá para cair (o consumo) muito mais. Por isso, para ele, a tendência é que 2015 seja um ano melhor.
Apesar de reconhecer dificuldades em 2014, o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Juiz de Fora, Aloísio Vasconcelos, está otimista por um cenário mais favorável para a classe empresarial no próximo ano. Ele destaca que o aumento da frequência de voos no Itamar Franco vai criar um ambiente de negócios mais favorável para a cidade e a região. Na sua opinião, os investimentos comprometidos ou postergados este ano devem ser efetivados no próximo. Estou muito otimista com a possibilidade de os negócios expandirem em 2015.
Segundo o presidente da Fiemg Regional Zona da Mata, Francisco Campolina, apesar da expectativa inicial de crescimento de 1% a 2% na indústria este ano, o setor contabiliza aumento de apenas 0,25%. Mesmo com a queda na arrecadação de ICMS de 3,57% (acumulado do ano até outubro), a aposta é que as vendas em novembro e dezembro possam melhorar o indicador. Para o próximo ano, a expectativa é de percentuais um pouco maiores, até 1,3%, em função do início das atividades do entreposto da Fiat, a intensificação das operações no Itamar Franco e os novos investimentos industriais.
Campolina destaca o impacto das medidas de contenção adotadas pela Mercedes e dos eventos nacionais, como a Copa do Mundo. Apesar disso, Campolina destaca a manutenção da empregabilidade positiva (166 vagas formais no ano até novembro) e aposta em correção salarial além da inflação na maioria dos sindicatos associados em 2015 a exemplo do que, segundo ele, aconteceu este ano. Temos boas perspectivas em termos de PIB, produção e faturamento. Tenho esperança que vai haver melhora em 2015.
Tribuna de Minas (Juiz de Fora) – MG