19/12/2014
Cuba está madura para receber um moderno sistema de comunicações, é um país que não tem produtos americanos como Coca-Cola ou Pepsi, e que está sedento por mais hotéis e até por latinhas de alumínio para cerveja
Empresas que desejam fazer negócios em Cuba vão encontrar um país maduro para receber um moderno sistema de comunicações, um país que não tem produtos americanos como Coca-Cola e Pepsi, e que está sedento por mais hotéis e até por latinhas de alumínio. Esta é a recompensa potencial que aguarda as corporações dos Estados Uni- dos, após o presidente Barack Obama ter anunciado a volta das relações diplomáticas com o país comunista, diminuindo restrições sobre viagens e comércio.
A palavra-chave é potencial, disse Bill Lane, diretor global de assuntos governamentais da Caterpillar em Peoria, Illinois. Cuba não precisa reconstruir sua infraestrutura. Precisa construir uma infraestrutura. Cuba precisa de tudo o que fazemos nos Estados Unidos, completou ele.
A inesperada mudança na política de Obama é apenas um primeiro passo para permitir que empresas dos EUA façam negócios com Cuba depois de mais de 50 anos de embargo econômico. A mudança vai permitir exportações de bens americanos para a ilha como material de construção, equipamentos agrícolas e infraestrutura de comunicação.
Mas o fim do embargo vai precisar do apoio do Congresso americano. Diminuir restrições a viagens vai ajudar as empresas aéreas e de cruzeiros. Instituições financeiras americanas vão ter permissão de abrir contas em bancos cubanos. O degelo vai significar novos negócios para empresas variadas como a Carnival (de cruzeiros), a Nike, e WalMart, entre outras.
Consumidores americanos também serão brindados com vários benefícios. Os visitantes americanos à ilha podem trazer de volta o equivalente a US$ 100 de charutos cubanos, por exemplo. A proibição imposta pelos EUA os impediam até agora de importar qualquer quantidade de tabaco cubano.
A normalização das relações com a ilha, a 145 quilômetros da Flórida, vai abrir as portas de um mercado de 11 milhões de pessoas, população do mesmo tamanho do estado de Ohio. É um mercado consumidor faminto por produtos americanos, avalia John Kavulich, conselheiro político do Conselho Econômico e Comercial EUA-Cuba.
Há uma alta conscientização para nomes de marcas de produtos americanos, constatou Kavulich. Isso significa que o custo de entrar no mercado cubano será menor porque não será necessário investir tanto em marketing, observou ele.
A Coca-Cola vai considerar entrar novamente no mercado cubano no momento apropriado e de acordo com as leis que governam as relações entre os EUA e Cuba, afirmou Ann Moore, porta-voz da Coca-Cola, que vende seus produtos para todos os países do mundo, com exceção de Cuba e Coreia do Norte.
A Pepsi, que tem negócios em mais de 200 países e territórios, quer adicionar Cuba ao seu contingente de clientes, disse Jay Cooney, porta-voz da empresa. Mesmo antes do anúncio histórico feito por Obama e pelo presidente cubano Raúl Castro, na quarta-feira, Cuba já vinha facilitando a atração de investimentos estrangeiros. O governo publicou em novembro um relatório de 168 páginas sobre energia, agricultura e turismo, como áreas-focos para investimentos estrangeiros.
Os planos incluem mais de 20 novos hotéis, cursos de golfe, condomínios, parcerias em exploração de petróleo e na fabricação de latas de alumínio para cervejas e refrigerantes. Uma grande área potencial para investimento é a das telecomunicações.
Apenas 5% da população de Cuba tem acesso à rede de internet: é uma das taxas mais baixas do mundo. As novas regras permitirão às empresas americanas exportar equipamentos para construir infraestrutura de internet. É um mercado virgem em relação a tudo que tem a ver com telecomunicações, disse Jose Otero, diretor na América Latina e no Caribe, da 4G Americas, uma organização comercial de telecomunicações.
Isso interessa a qualquer operadora dos Estados Unidos, completou. A Cisco System, empresa de tecnologia, pode querer bancar um plano para fazer de Havana um modelo para a sua iniciativa de Cidades Inteligentes, nas quais implanta serviços e redes para internet, segundo Ray Mota, analista da ACG Research. A Cisco já está analisando as implicações das novas regras comerciais, informou John Earnhardt.
Operadoras de cruzeiros estão de olho em Cuba há anos. Muitas já desenvolveram planos antes mesmo das mudanças anunciadas agora, disse Matthew Jacob, analista da indústria de turismo da ITG Investment Research. Cuba é um destino que atrai interesse para os itinerários de cruzeiros, disse Jacob. Orbitz Worldwide, empresa que sempre foi crítica do embargo, aplaudiu as medidas de Obama, dizendo que elas vão pavimentar o caminho para as viagens entre os dois países. Há vários benefícios econômicos, sociais e culturais que vão fluir de um acesso livre e aberto a Cuba. Nossos clientes estão ávidos para visitar a ilha, disse Barney Harford, executivo-chefe da Orbitz.
As novas normas vão facilitar, entre outras, as visitas familiares, de estudos e de pesquisas. As viagens puramente turísticas ainda são contra a lei, a menos que o Congresso aprove o fim do embargo econômico. Cuba, com seus veículos da década de 50, também está madura para fabricantes de carros. Mas os cubanos não poderão comprar carros, nem os pequenos, até que sua economia seja ressuscitada, constatou Michelle Krebs, analista da AutoTrader.com.
Brasil Econômico – SP