18/12/2014 às 05h00
Por Genilson Cezar | Para o Valor, de São Paulo
Design diferenciado, em linha com o que há de mais moderno na moda internacional, mas com as cores nacionais, aumento da produtividade no processo de produção e mais eficiência na gestão dos recursos são elementos fundamentais na estratégia dos fabricantes brasileiros de calçados para recuperar a competitividade perdida nos últimos anos no mercado externo. O movimento ainda não atinge toda a indústria, mas pode se tornar mais forte a partir do ano que vem, em função de uma nova política de valorização cambial, admite Heitor Klein, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), que representa mais de oito mil empresas nacionais.
“Todo nosso esforço está concentrado na promoção comercial e inserção de marcas em pelo menos oito países, entre os quais Estados Unidos, Colômbia, México, Rússia, Alemanha e China”, diz Klein. Ele assinala que esse trabalho será feito em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), com um programa de investimentos de R$ 41,4 milhões nos próximos dois anos. Para ele, o grande desafio é enfrentar a concorrência asiática. “Precisamos fortalecer os mecanismos de defesa comercial e ampliar nosso espaço no mercado internacional com produtos diferenciados, agregando mais valor ao calçado brasileiro e trabalhando na fidelização de consumidores e varejistas”, afirma.
Não é uma tarefa fácil. Depois de manter uma performance padrão de quase US$ 2 bilhões de exportação, até 2008, em função de fatores macroeconômicos, notadamente da crise econômica internacional, o calçado brasileiro entrou em um espiral de queda, até chegar a um patamar em torno de US$ 1,2 bilhão, cerca de 30% a menos.
Em 2013, a indústria brasileira produziu 900 milhões de pares, dos quais 123 milhões foram exportados para 150 países, o que gerou uma receita de US$ 1,1 bilhão, o mesmo valor registrado em 2012. De janeiro a outubro deste ano, as exportações de calçados chegaram a US$ 874 milhões, 3% a menos do que foi realizado em 2013 (US$ 900,74 milhões). Mas as importações também caíram. Nos dez meses de 2014 o varejo brasileiro comprou US$ 497,5 milhões em calçados estrangeiros, número que era de US$ 510,28 milhões no ano passado (-2,5%). Com o resultado, a balança comercial caiu 3,6% no período e o saldo ficou em US$ 376,57 milhões.
De acordo com empresários do setor, a redução das exportações foi compensada com a ampliação do mercado interno. A partir de 2009 as vendas no varejo cresceram 10% ao ano, o que possibilitou a expansão da produção. Um exemplo é o da Grendene, que nasceu em Farroupilha (RS) em 1971 e que atraída pela redução do ICMS se transferiu em 1990 para o Ceará, onde opera com três fábricas, em Fortaleza, Sobral e Crato, com 26 mil empregados. Nos últimos dois anos, a empresa investiu perto de R$ 300 milhões para aumentar a capacidade anual em Sobral em 50 milhões de pares. No ano passado, a empresa produziu 216 milhões de pares de calçados de suas principais marcas (Melissa e Ipanema), com receita bruta de R$ 27 bilhões, 16,6% maior do que em 2012.
Para o grupo Priority, detentor das marcas West Coast e Cravo & Canela, o aumento da produtividade, aliado ao cenário cambial, deve permitir a retomada nos negócios internacionais em 2015. “Nos últimos anos definimos nova estratégia para a exportação, motivados pela redução nos negócios com Argentina”, conta Eduardo Smaniotto, diretor comercial do grupo. “Decidimos fortalecer nossas marcas em outros países e ampliar nossa força de venda.”
Apesar de todo esforço para conquistar novos mercados não há como projetar o desempenho das exportações, se não se contar com o planejamento e políticas públicas específicas, destaca José Carlos Brigagão, presidente do Sindicato da Indústria de Franca (Sindifranca), no interior paulista. “O setor calçadista brasileiro hoje se encontra à deriva. O governo deve decidir se vai exportar matéria-prima ou produtos acabados”, diz.
Valor Econômico – SP