28/11/2014 às 05h00
Por Simone Cavalcanti | Para o Valor, de São Paulo
Referências na venda de mobiliário e peças de decoração, as ruas Gabriel Monteiro da Silva e Teodoro Sampaio são dois mundos complementares do ponto de vista comercial. A primeira conta com o público de classe A, que é fiel e busca pelo conceito, pela grife. A segunda atende pessoas que não estão focadas na exclusividade da peça, mas também querem sofisticação e bom gosto.
Tanto para fabricantes de móveis quanto para os próprios lojistas é interessante conseguir ocupar os dois espaços, pois eles fazem parte de um mercado que gira em torno de R$ 7 bilhões por ano no Brasil, segundo estimativas da Associação Brasileira das Indústrias de Móveis de Alta Decoração (Abmad). É atendido por 200 indústrias que distribuem para 22 mil lojas no país.
Segundo o presidente da Abmad, Michel Otte, a presença na Teodoro está voltada para o ganho em escala, o que pode compensar o menor crescimento com o segmento de alta decoração. “Importante ressaltar que não estamos falando de vendas para a classe C na Teodoro Sampaio”, diz ele, que também é diretor comercial da Butzke, fabricante de móveis que tem linhas diferentes para atender ao público e lojistas das duas ruas.
Otte afirma que, mesmo com o atual momento de arrefecimento da economia brasileira, a expansão das vendas do segmento de móveis chamados comerciais continua ocorrendo e tem sido maior na comparação com os exclusivos.
“O setor ainda está vivendo o reflexo do boom imobiliário que tivemos anos atrás”, disse o presidente da Abimad, explicando que as vendas de apartamentos na planta estavam em alta e, agora que os imóveis estão prontos, os consumidores estão em busca da mobília e decoração. Assim, é para as lojas que ficam na rua Teodoro Sampaio que se espera aumento mais vigoroso do faturamento, segundo análise unânime dos entrevistados.
A Butzke projeta elevar seu faturamento em 20% este ano em relação ao ano passado nas colocações para os clientes da Teodoro e entre 5% e 10% para os da Gabriel. “Acredito que o consumidor esteja optando por uma compra mais racional, aí crescem as vendas dos móveis comerciais”, diz Michel Otte.
Há quase 70 anos no mercado, a fabricante mineira Lider Interiores, com loja na Teodoro Sampaio, espera ampliar suas vendas em 14% neste ano, com uma perspectiva um pouco superior a esse percentual para 2015. De acordo com o gerente de marketing, Tiago Nogueira, muito embora sigam na linha comercial, a busca pela inovação é um diferencial que garante a expansão do negócio.
Nos próximos três anos, a empresa, que tem 22 lojas próprias e três franquias espalhadas pelo país, espera investir algo em torno de R$ 10 milhões no seu parque industrial para inovar e elevar ainda mais a qualidade de seus produtos.
Apesar de brilhar mais aos olhos dos consumidores classe A, a Gabriel Monteiro da Silva aponta para uma baixa perspectiva de vendas tanto neste ano como em 2015. Marcel Rivkind proprietário da Breton Actual espera faturar o mesmo ou 5% menos do que em 2013. “Na crise é preciso ser criativo”, afirma, já esboçando otimismo para 2015 ao dizer que, dados os eventos ocorridos neste ano (Copa do Mundo e eleições), muitas compras ficaram reprimidas.
Em comum, Lider e Breton Actual abriram suas primeiras lojas no Shopping Lar Center para, só depois, alcançarem a rua. A Dunélli House, uma das fornecedoras da Casa Cor de 2012, é tradicionalmente da Teodoro Sampaio. Abriu filial no Shopping Móveis Moema e, há dois anos, na Gabriel Monteiro da Silva para focar no público profissional de arquitetos e decoradores de alta decoração.
“A Gabriel é referência mundial para a alta decoração. Se não está lá, você está fora do circuito”, diz Rivkind, da Breton, que, ao lado de Ornare, By Kamy e Interbagno optaram por manter lojas na Gabriel e ao mesmo tempo ter presença em shoppings voltados para o mobiliário.
Plana, arborizada e com vizinhança abastada, a Gabriel Monteiro da Silva em seus dois quilômetros de extensão abriga aproximadamente 150 lojas do ramo, segundo dados da Associação Alameda Gabriel. “A partir de 2000, a Gabriel se consolidou como a única rua no Brasil na venda de alta decoração. Algo próximo é a Alameda das Espatódeas, em Salvador, mas bem menor. Até mesmo no Rio de Janeiro, as lojas de grife estão concentradas no Casa Shopping, na Barra”.
“Elas (as ruas) não são substitutas dos shoppings, mas também não vão sucumbir a eles”, afirma Michel Augusto Zakka, diretor-superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) distrital de Pinheiros e diretor comercial da Preçolândia.
Zakka explica que na rua não existem os custos que estão vinculados às lojas em shoppings. Com isso, é possível ampliar as negociações em relação aos preços dos produtos. No entanto, essa não é uma realidade para todos.
Para Nogueira, da Lider, os preços não variam de acordo com o lugar onde a loja está. “Mas o shopping, pelos custos, torna-se menos rentável e é preciso vender mais para compensar”, afirma ele.
Para vender mais no ano que vem, a aposta dos lojistas da Gabriel é no glamour. Segundo Rivkind, a exemplo da “reforma” que foi feita na rua Oscar Freire, nos Jardins, para a maior comodidade dos pedestres, a Gabriel também inicia um processo de remodelagem da rua.
Valor Econômico – SP