27/11/2014 às 05h00
Por Salete Silva | Para o Valor, de São Paulo
Dentro ou fora dos shoppings? Essa é uma das primeiras questões a ser examinada pelo candidato a uma franquia no momento de abrir um negócio. O custo operacional dos pontos comerciais em ruas ou em outros centros comerciais, como aeroportos, é em geral menor. Mas a segurança, o conforto e o fluxo de consumidores determinados a fazer compras que os shoppings oferecem, compensam, segundo a avaliação de franqueados.
“Na rua, a margem varia de 10% a 13% e nos shoppings de 5% a 8%”, compara Marcelo Mendonça, franqueado da rede de restaurante fast food China in Box. O empresário têm três lojas da franquia em Manaus: uma em shopping e duas em ruas. As lojas de rua, segundo ele, apresentam melhores resultados em relação à rentabilidade, mas no shopping há mais segurança.
A diferença, ele explica, está no custo de ocupação (aluguel, luvas condomínio, taxa de ar condicionado etc) que nos shoppings representa 10% do faturamento enquanto nas lojas de rua, 4%. “Por outro lado, os riscos de assalto e violência em ruas estão tão altos que há lojas com segurança na porta”, relata. Essa é uma das razões pelas quais o empresário planeja abrir sua próxima loja em shopping embora os principais empreendimentos em Manaus sejam recentes e sua expectativa de boa rentabilidade é apenas no longo prazo.
“Os shoppings novos são menos atraentes por causa do menor fluxo de consumidores e da baixa taxa de ocupação”, afirma. O retorno do investimento, o empresário calcula, só deverá começar a aparecer após cerca de dezoito meses e é necessário capital de giro para manter o negócio por esse tempo. “Os novos empreendimentos foram planejados há cinco anos e a economia desacelerou”, explica.
A evolução da marca China in Box e Gendai, ambas do grupo TrendFoods, mostra que a rua ou o shopping apresentam vantagens e desvantagens de acordo com a estratégia do franqueado. Para redes do setor alimentício, os shoppings vão continuar sendo uma opção mais atraente.
“Shoppings têm grande fluxo de pessoas e para a culinária oriental é um diferencial para o consumidor que antes só encontrava esse tipo de comida em alguns lugares como a Liberdade, em São Paulo”, afirma Robinson Shiba, presidente do Grupo TrendFoods.
O China in Box iniciou suas atividades no Brasil em 1992, quando foi aberta a primeira loja, em São Paulo, no bairro de Moema. Sua expansão se deu por meio de lojas bem localizadas em ruas de alto fluxo de público. Nos últimos tempos, no entanto, a marca cresceu em praças de alimentação de shoppings para atender um público diferenciado.
Numa trajetória inversa, o Gendai, nasceu no mesmo ano só que no Shopping Morumbi, em São Paulo. Sua expansão se deu em shoppings, nos quais está presente em 70 fast foods. Os planos da empresa preveem a instalação de mais 150 lojas em shoppings de cada uma das marcas nos próximos cinco anos.
As lojas de shopping dão visibilidade para a marca, segundo acredita Silvia Diniz, franqueada em Recife da rede de franquias de calçados, bolsas e acessórios, It Beach. A empresária tem uma loja no RioMar Shopping e outra no Aeroporto Recife. “As vendas das lojas no aeroporto são resultado da exposição da marca no shopping”, explica.
Aeroporto e shopping, segundo ela, têm públicos diferentes. Os consumidores dos aeroportos em geral adquirem por impulso. Nos shoppings estão mais focados na compra e os lojistas têm de atraí-los e conquistar a fidelidade. Para isso, a empresária investe em treinamento. “Nos shoppings os vendedores têm de ter conversa de conquista”, revela.
O público também é diferente. No shopping de Recife a predominância, ela avalia, é de classe A e B. Nos aeroportos, o poder aquisitivo é mais variável e há mais consumidores de menor renda. A rentabilidade no aeroporto, a empresária calcula, é maior também por causa do menor custo operacional. “A concessão é obtida por licitação e o aluguel é mais barato”, explica.
Nos shoppings novos, como o RioMar Shopping, a empresária avalia, a rentabilidade vai crescer com a maturidade do empreendimento. Silvia planeja abrir mais lojas em aeroporto, mas quer manter a unidade do shopping. Ela considera fundamental a presença em shopping para a estratégia de expansão da marca.
Nem sempre, no entanto, o custo operacional no shopping é maior do que o da rua. Em Araraquara, interior de São Paulo, onde o comércio de rua é muito valorizado, o aluguel nos melhores pontos da cidade pode custar mais, segundo o franqueado da Loja de Torcidas do Shopping Jaraguá, Itamar Barnabé. “Além disso, em shopping há muito mais comodidade, segurança e facilidade de acesso para o consumidor”, diz Barnabé.
A decisão entre a rua ou o shopping muitas vezes depende da facilidade de acesso da residência do franqueado até a loja. O empresário Edson Ramos de Siqueira, franqueado da Loja de Torcidas em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, preferiu abrir uma franquia na rua, mas em sua cidade, a montar o negócio no shopping localizado na cidade vizinha.
“Além da distância, o aluguel é mais barato e tenho menor gasto com folha de pagamento uma vez que o horário de funcionamento na rua é mais restrito, das 9 horas às 18 horas”, compara. Ele reconhece, no entanto, os riscos da rua. “Temos de ter alarme, câmara e equipamentos de segurança para evitar assaltos”, compara. Essa é uma das razões pelas quais seu próximo ponto de venda será em um shopping.
Valor Econômico – SP