27/11/2014 às 05h00
Por Jane Soares | De São Paulo
A indústria de shoppings será uma das últimas a registrar os efeitos da crise econômica. E uma das primeiras a reagir. O velho ditado tinha sido praticamente esquecido depois de anos de crescimento contínuo. Voltou à tona quando o desempenho de algumas empresas mostrou-se mais vigoroso do que o esperado neste ano. De janeiro a setembro, o lucro líquido da Iguatemi Empresa de Shopping Centers foi de R$ 165,3 milhões, 29,3% mais que em igual período de 2013. Na Multiplan, chegou a R$ 243,8 milhões, alta de 7,2%. Também ocorreram acidentes de percurso. Prejudicada pela valorização do dólar, o lucro líquido ajustado da BR Malls ficou em R$ 306,9 milhões, retração de 9,9%.
“Os resultados da Iguatemi ficaram acima das previsões do mercado e foram os melhores do setor”, diz a vice-presidente de finanças e diretora de relações com os investidores, Cristina Belts. “A realidade foi menos negativa do que as expectativas”, comenta o diretor vice-presidente financeiro e de relações com os investidores da Multiplan, Armando d’Almeida Neto.
As vendas também surpreenderam e ultrapassaram, em muito, o desempenho do comércio em geral. Pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que as vendas do varejo acumularam alta de apenas 2,6% de janeiro a setembro. Na Sonae Sierra Brasil, os lojistas comercializaram 17% a mais no período e na Iguatemi, 16,2%. É preciso ressaltar que essas empresas, que figuram entre as maiores da indústria, também estão bem longe da média do setor, de 7,3%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Shopping Centers (Abrasce).
No início de 2014, expectativa era de fechar o ano com um crescimento entre 8% e 8,5%. “O resultado até setembro é excelente porque nos permite acreditar que a expansão nas vendas será superior aos 8,6% do ano passado”, comenta o presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga. Pelo parâmetro mesmas lojas, o resultado das vendas é bem mais modesto. Na Iguatemi, foi de 7,6% nos nove primeiros meses de 2014, de 7,1% na Sonae Sierra e de 6,5% na BR Mall.
Os bons índices de vendas foram resultado do esforço conjunto de administradores de shoppings e lojistas para criar novas oportunidades de vendas, de programar cuidadosamente liquidações e promoções capazes de fazer esquivos consumidores a abrir carteiras e bolsas. A BR Malls, por exemplo, programou um evento específico envolvendo lojas de calçados e bolsas. E parte de seus 50 shoppings se preparava para abrir as portas às 7h00 no Black Friday, a grande liquidação importada dos Estados Unidos, que acontece na última sexta-feira de novembro.
Há anos, empreendedores de shoppings argumentam que a rápida expansão do setor resulta em maior poder para os lojistas, que encontrariam mais facilidade para negociar alugueis. Isto pode ser verdade no que se refere a empreendimentos fora dos grandes centros urbanos. Quando se trata de shoppings consolidados a coisa muda de figura e os reajustes de algumas redes foram superiores ao crescimento das vendas.
O índice médio de reajuste nas mesmas lojas ficou na casa dos 10% na Sonae Sierra. Arrecadou 20,6% mais no período até setembro. Na Iguatemi, a receita bruta com alugueis cresceu 27,2%, para um aumento de 16,2% nas vendas. A explicação é que nas duas empresas, a taxa de ocupação é de 95,1%, a maior desde o quarto trimestre de 2009. Em todas elas, a taxa de inadimplência não chega a 2%.
Valor Econômico – SP