domingo, 23 de novembro de 2014
A entrada da Amazon Brasil na venda de livros físicos, há três meses, abalou a estrutura do mercado editorial e acirrou a guerra de preços entre livrarias e o comércio on-line. O resultado é que alguns títulos impressos estão com valores mais baixos que as versões digitais.
Com um alcance maior dos clientes, promoções e facilidade na compra, o e-commerce se fortalece a cada ano.
Porém, com a política de preço cada vez mais agressiva, existe medo de que pequenas livrarias desapareçam.
Para o presidente da ANL (Associação Nacional de Livrarias), Ednilson Xavier, a gigante americana “prejudicou, está prejudicando e irá prejudicar ainda mais” o mercado de livros no país.
“A vinda da Amazon só veio ratificar uma condição já existente no Brasil há bastante tempo, que é a concorrência predatória”, afirma.
Carlo Carrenho, especialista em mercado editorial e fundador do PublishNews, explica que a Amazon revê os preços de todos os livros de hora em hora, equiparando os valores de qualquer site.
“Ninguém chega perto de ter isso no Brasil.”
TROCA-TROCA
No início deste mês, o título “Fim”, de Fernanda Torres, era vendido na Amazon Brasil por R$ 16,90. Sua versão digital custava R$ 21,66.
O mesmo livro impresso estava à venda na loja virtual da Livraria Cultura por R$ 25,88 e o digital, por R$ 22,80. Na Saraiva, o exemplar custava R$ 25,90 e o e-book, R$ 22,80. Uma semana depois, a loja americana aumentou o preço para R$ 19,90 e foi desbancada pela Submarino.com, que está vendendo o exemplar por R$ 17,51.
No entanto, quem ganhou essa batalha foi o site Extra.com, que anunciou o livro físico por R$12,90.
Todas as empresas colocaram o valor abaixo do sugerido pela própria editora, a Companhia das Letras, que é de R$ 34,50 para a versão física e R$ 24 para a digital.
Além disso, o preço do livro físico, em muitos casos, é menor que o digital. Carrenho explica que o contrato de livros digitais no Brasil limita o desconto a no máximo 5%.
“Há praticamente um preço fixo do livro digital”, diz.
Para Sônia Jardim, presidente da SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), a regra para a venda de títulos às livrarias é uma só. “As editoras sugerem um preço e vendem ao varejista com um desconto de até 50%. Mas alguns estão abrindo mão desse desconto para conquistar mais clientes”, conclui.
Ednílson Xavier diz que a concorrência que parece benéfica ao consumidor, no longo prazo, não é. “Ela impede que as pequenas e médias livrarias sobrevivam e tenham diversidade de títulos. Quando o mercado fica concentrado na mão de grandes, evidentemente se prioriza as mercadorias que têm giro”.
“Não vamos dar a receita do bolo”, diz o diretor geral da Amazon no Brasil, Alex Szapiro, quando questionado como a empresa consegue baixar tanto os preços.
Repetindo o lema da empresa, se recusa a falar sobre política de preços e diz que a principal meta da livraria eletrônica é “usar a tecnologia em prol do cliente”.
Carrenho afirma que combater a Amazon com política de preço fixo do livro é “ingenuidade”. Para ele, é preciso melhorar os processos do setor e dar à indústria capacidade para competir.
Folha de S. Paulo – SP