03/05/15 – 03h00
Serviços são vistos como forma de manter filhos seguros em casa
São Paulo. Cortar o restaurante nas horas de lazer, mas garantir a TV por assinatura e a internet em casa. Reduzir as idas ao shopping, mas aumentar as compras no atacado. Em maior ou menor grau, ponderar escolhas como essas já faz parte do cotidiano de milhares de famílias brasileiras. Essas manobras foram identificadas em pesquisas recentes que acompanham hábitos da chamada nova classe média.
Na avaliação de especialistas em consumo, as escolhas indicam que a classe C já começou a abdicar de algumas conquistas, consideradas menores, na tentativa de preservar outras, mais importantes. Pesquisas com a classe C sempre identificaram que o seu maior temor era, genericamente, perder as suas conquistas recentes, diz Maurício Prado, sócio-diretor da Plano CDE, consultoria especializada em pesquisas sobre a baixa renda.
O risco difuso virou realidade por causa da possibilidade de perda de emprego e de queda na renda: é preciso fazer escolhas.
Três levantamentos realizados no início do ano pela Plano CDE traçam um retrato de como a classe C sente e reage à primeira crise econômica desde que ascendeu na pirâmide social. O mais recente, feito há três semanas, mostra que a maior preocupação de famílias com renda entre R$ 1.500 e R$ 2.500 é não ter dinheiro para pagar as contas contas essas que têm uma composição mais sofisticada.
Há o smartphone, a TV por assinatura, a prestação do carro, diz Prado. Há 15 anos, deixar de comprar sabão em pó de marca era perda de status, agora, já nem tanto.
Na reacomodação de prioridades, o celular, por exemplo, reina. A tarifa não é barata, mas ele não está entre os itens que já foram restringidos e só aparece no fim da lista de eventuais economias futuras. O salão de beleza, que viveu um boom, perde força, porque unha e cabelo podem ser feitos em casa a um custo inferior. O plano de saúde privado também começa a ser descartado bem ou mal, há o SUS.
Outro comportamento padrão é que as famílias relutam em cortar internet e a TV a cabo. Na pesquisa da Plano, as famílias reclamam que os dois serviços agora pesam no bolso, mas nenhum deles aparece na lista de itens que já foram cortados, nem dos que podem ser reduzidos.
Muitas famílias de classe C moram em bairros com problemas de violências, diz Prado. Internet e TV paga fazem parte do lazer do filho e o mantêm em segurança dentro de casa.
Cai tradição de cortar comida por último
São Paulo. A relação com produtos básicos, mais tradicionais, por sua vez, dá sinais de que está em transformação. Historicamente, reduzir a compra do básico, especialmente de comida, era o último artifício de economia na baixa renda.
A Nielsen, especialista em pesquisas de mercado, mostrou mudança na tendência. Em janeiro e fevereiro de 2013, fora da crise, o consumo de arroz, feijão, desodorante e xampu cresceu 6,9%. Neste ano, a alta foi de 1,2% as pessoas compraram um número menor de itens.
Super Notícia – MG